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Índios resistem à opressão branca

O Estado do Paraná - Curitiba - PR
Autor: Patrícia Iunovich
10 de Jun de 2001

Mesmo sofrendo pressões externas, a comunidade m'bya-guarani - uma pequena aldeia indígena - localizada na margem direita do Rio Paraná, no Paraguai, tenta sobreviver à era moderna mantendo preservada a cultura de seus antepassados. Os poucos índios que restaram no lado paraguaio da fronteira com o Brasil vivem em situação de miséria e crise de identidade. Dos mais de 500 integrantes que moravam na tribo, sobraram apenas 70. O êxodo é atribuído em grande parte à pobreza da comunidade e ao contato com os parentes em aldeias localizadas do lado brasileiro da fronteira. Muitos familiares se reencontraram depois de longos anos afastados e decidiram se estabelecer na área demarcada no Brasil, aquietando o espírito nômade.Com a morte em 1929 do pesquisador suíço Moisés Bertoni, que viveu por 30 anos na região, a comunidade ficou praticamente órfã e foi abandonada pelo governo paraguaio. Hoje, os m'bya-guarani fazem parte das minorias étnicas ignoradas pela sociedade. A opressão vivida pelos índios começou no período colonial e foi agravada no século XVIII, quando eles eram obrigados a abandonar as próprias terras ou se submeter à escravidão do homem branco. Na época do descobrimento, quando os desbravadores chegaram, os índios ocupavam uma grande extensão territorial, hoje boa parte ocupada pelas metrópoles. Os anos de perseguição e o contato com a civilização branca corromperam costumes e trouxeram muitas doenças para a população indígena, que nos últimos séculos vem sendo dizimada.Moisés, o protetorO cientista Moisés Bertoni, que era uma espécie de protetor dos índios, descreveu os m'bya como representantes de uma organização espontânea baseada em princípios de completa liberdade individual e de igualdade absoluta de direitos. O pesquisador ajudou a comunidade respeitando os hábitos da tribo. Mesmo sofrendo todo tipo de opressão, a cultura desse povo, os primeiros habitantes da região, ainda exerce forte influência.No Paraguai, por exemplo, as músicas, danças e tradições indígenas estão por toda parte. O exemplo mais emblemático dessa influência é o idioma. No país vizinho, o guarani é a língua oficial da população, a exemplo do espanhol.A maioria dos paraguaios é descendente da população indígena.As 13 famílias remanescentes na pequena tribo, localizada perto do Museu Porto Bertoni, em sua maioria, é formada por meninas de 12, 13 anos, com vários filhos no colo. Os m'bya-guarani sobrevivem da pesca, caça e da agricultura mantida em pequenas roças na aldeia, cada vez mais escassas. Boa parte da sobrevivência da tribo é garantida por doações de entidades assistenciais, empresários e comunidade em geral. Com as condições precárias de moradia - as casas são de pau-a-pique e praticamente nenhuma higiene, os índios acabam ficando suscetíveis às infecções. Os inimigos de agora são as doenças do homem branco; no inverno a gripe agravada pela falta de anticorpos; no verão, os mosquitos transmissores da dengue e a malária, que nos últimos anos atingiu vários integrantes da tribo.E o branco corrompeu os costumesA reserva dos m'bya é um contraste em relação à aldeia dos avá-guarani (todos originários dos índios tupi-guarani) em Santa Rosa do Ocoí, em São Miguel do Iguaçu, do lado brasileiro da fronteira. O contato com a civilização branca corrompeu os costumes da tribo ao longo dos anos. Dois dos mais conhecidos meios de comunicação da era moderna chegaram a essa comunidade formada por aproximadamente 480 integrantes. Aos poucos os antigos colóquios foram substituídos por reuniões em frente da televisão. O telefone celular tornou-se artigo de extrema necessidade.

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