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Índios relatam pressão e ameaça

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: ALINE CHAGAS
28 de Out de 2005

Processo de identificação de terra indígena opõe etnia e fazendeiros; PF vai investigar o caso

O procurador da República Marcelo Medina conversa com o chiquitano Aurélio Rodrigues: investigação

Os estudos para identificação das terras da etnia chiquitanos na região de Cáceres estão criando conflitos entre fazendeiros e índios. Moradores das comunidades indígenas denunciam ameaças por parte dos fazendeiros para que não reconheçam a origem indígena, e assim atrapalhar o processo de identificação das terras. Representantes do Ministério Público Federal, Polícia Federal, Funai e Conselho Indigenista Missionário (Cimi) estiveram na quinta-feira no local para checar a situação.

O problema veio à tona no dia 17 de outubro, quando o missionário jesuíta do Cimi, padre Felício Sritsch, acompanhou o retorno de dois moradores das comunidades chiquitanas Acorizal e Fazendinha, na região de Porto Esperidião - fronteira com a Bolívia - para a área identificada como terra indígena da etnia (Portal do Encanto), que inclui as duas aldeias. Lá padre Felício passou três dias e conversou com vários indígenas, entre eles Aurélio Rodrigues, morador da comunidade Nossa Senhora de Aparecida, distante 70 quilômetros da terra indígena já identificada.

Na ocasião, Aurélio contou para o missionário que a dona da fazenda onde está localizada sua comunidade tem pressionando os moradores que confirmam ser índios. Uma parte da comunidade de Aurélio fica dentro da Fazenda São João do Guaporé, propriedade de Terezinha Helena Staut Costa, e objeto de estudo antropológico para a identificação da terra indígena Lago Grande.

Padre Felício contou que após conversar com alguns índios percebeu que a intimidação ocorre por dois motivos. O primeiro, segundo o padre, é para que os moradores da comunidade Nossa Senhora de Aparecida não assumam a etnia, e digam que são, na verdade, caboclos. O segundo é que se o local for identificado como terra indígena, a fazendeira perderá um pedaço de sua extensão para os chiquitanos.

A analista pericial em Antropologia do Ministério Público Federal, Jacira Bulhões, explicou que esse é um problema antigo. Jacira contou que a etnia sofreu um processo de rejeição contínuo e sempre foi usada como mão de obra barata. Jacira lembrou que até mesmo a Funai, há algum tempo, questionava se os chiquitanos seriam indígenas brasileiros ou bolivianos.

"Algumas famílias que negam ser indígenas são famílias que foram contempladas pelo Incra com lotes. Aí eles são pressionados com a informação de que perderão tudo e morarão no meio do mato, nus, isolados", comentou a analista pericial.

O problemas dos chiquitanos, de acordo com o procurador da República Marcelo Medina, chama atenção do Ministério Público Federal há algum tempo. Esse motivo e as denúncias levaram o procurador até as comunidades da região de Cáceres esta semana. O procurador contou que recebeu informações de pessoas que estariam fazendo abaixo-assinado para que os moradores da comunidade assinassem afirmando que não serem índios.

Medina informou que a Polícia Federal vai abrir inquérito para melhor apuração dos fatos. "O Ministério Público Federal também cobrará a conclusão dos estudos das terras indígenas e intervirá para que o processo de identificação da terra ocorra de forma pacífica entre todas as partes interessadas", disse Medina.

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