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Autor: Ângela Kempfer
18 de Jul de 2008
A mobilização de fazendeiros, prefeitos e parlamentares sul-mato-grossenses contra o início de trabalhos para delimitação de áreas indígenas no Estado, já provocou a reação dos índios em Mato Grosso do Sul.
A comunidade guarani da região de Dourados pretende divulgar ainda hoje um documento de repúdio contra a posição do governador André Puccinelli, que encabeça o movimento na tentativa de reverter os efeitos de seis portaria publicadas no dia 14 de julho pelo governo federal.
A decisão foi tomada nesta manhã, durante reunião de professores e universitários indígenas em Dourados.
Assim como os ruralistas definiram durante encontro ontem na governadoria, as lideranças indígenas também pretendem encaminhar uma carta ao presidente Lula exigindo o cumprimento do que consideram constitucional.
"Desde 88, quando foi obrigado pela Constituição, esperamos que o governo faça as demarcações. É muito tempo descumprindo a lei", reclama o guarani Anastácio Peralta, da reserva de Dourados.
Os índios dizem que, ao "tomar partido" dos fazendeiros, o governador "vira as costas para um povo que também vive no Estado", avalia Anastácio. "Não é possível que ele (Puccinelli) só governe para meia dúzia", comenta.
Estopim - A publicação das portarias oficializa o início de um processo já esperado desde novembro de 2007, e deflagra o maior processo demarcatório já realizado no Estado, envolvendo áreas em 26 municípios.
A previsão é de que as equipes comecem o levantamento nas regiões em agosto e termine o relatório em oito meses.
Para o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), a reação diante da possibilidade de delimitações gerou muitas preocupação. "É uma frente anti-indígena em Mato Grosso do Sul", diz Egon Heck, membro do Conselho.
Segundo ele, o grupo contrário ao processo não compreende que as demarcações podem, justamente, acabar com conflitos pela terra no Estado. Egon também reclama do que considera "mentiras" propagadas e "má-fé" para instalar o medo entre os produtores rurais e a população nos municípios que serão impactados.
"Eles incitam a opinião pública. Não existe isso de 700 mil pessoas impactadas, ou falar que 1/3 do Estado vai para as mãos dos índios. O que as comunidades querem é muito pouco diante do que foi tirado delas", garante.
O representante do Cimi roga pelo bom senso. "As pessoas tinham de sentar, discutir, saber realmente o que está previsto e reconhecer que é o melhor caminho, apesar de tardio".
Ele reclama que nem 0,05% do território do Estado é ocupado hoje pelas maiores população indígena, a guarani e a terena. "O que esse trabalho vai fazer é sugerir a ampliação de algumas aldeias e identificar outras. Nunca no Estado se reconheceu o direito dos índios e sim trabalhou pela extinção desse povo", diz Egon.
Do outro lado - Os produtores rurais do Estado enviaram nota à imprensa hoje garantindo que, após a publicação das portarias, os índios retomaram as invasões de área no Estado.
"No município de Antonio João, próximo da fronteira com o Paraguai. A propriedade foi ocupada na madrugada desta sexta-feira 8) por índios Guarani Kaiowá. O proprietário já acionou a polícia Civil e Federal sobre a invasão", informa a Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS).
"Essas portarias já trazem um clima de guerra para o estado", apontou o presidente da FAMASUL , Ademar Silva Júnior.
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