Folha de Boa Vista-RR
Autor: Alexsandra Sampaio
06 de Nov de 2002
As lideranças indígenas têm audiência marcada com várias autoridades
Uma comitiva formada por 23 lideranças indígenas da região do Baixo Cotingo, na área indígena Raposa Serra do Sol, está reunida em Boa Vista desde ontem se articulando com o objetivo de denunciar a ocupação de arrozeiros em terras já demarcadas pelo Ministério da Justiça.
A intenção dos indígenas é se reunir com os representantes dos órgãos ambientais e a Procuradoria da União em Roraima para denunciar invasão de terras demarcadas, desmatamento e contaminação das águas pela ação de tratamento das lavouras com agrotóxicos.
A Fundação Nacional do Índio (Funai) foi o primeiro órgão a receber a denúncia. Ontem à noite o administrador regional da Funai, Martinho Andrade, esteve no Conselho Indígena de Roraima (CIR) para ouvir a comitiva e anunciou que vai encaminhar a denúncia aos órgãos competentes como Ministério da Justiça e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).
Segundo o coordenador regional do Baixo Cotingo, Marinaldo Justino Trajano, o procurador da República, Ageu Florêncio, deverá se reunir com a comitiva amanhã, com horário ainda a ser definido. As lideranças pretendem convidar o representante do Ibama para formalizar a denúncia.
A reivindicação dos indígenas é pela retirada imediata dos arrozeiros daquela região sob o argumento de que os produtores estão a cada dia avançando ainda mais na área demarcada, além de afirmarem que a atividade está prejudicando o meio ambiente e a saúde das comunidades.
"Crianças já ficaram doentes com coceiras por causa dos agrotóxicos, os peixes estão morrendo e não existe mais mata. Outro prejuízo é que os rios e os lagos estão sendo entulhados e as lavouras estão cada vez mais perto das malocas", contou o tuxaua da maloca Pedra do Sol, Valdenir da Silva Pinto.
CONFLITO - Justino afirmou que caso não seja resolvida essa situação imediatamente, ele teme que possa ocorrer conflito entre índios e não-índios. Essa preocupação, segundo ele, se deve ao fato de já ter ocorrido início de choque entre alguns produtores que expulsaram os índios de dentro da área indígena cercada pelos arrozeiros.
"A pior coisa é a ameaça a nossa comunidade, feita pelos produtores que muitas vezes estão armados quando impede os índios de caçar, pescar e ainda perdemos o gado quando entra na área dos produtores" comentou o indígena Justino ao ressaltar que intenção da comitiva é continuar em Boa Vista até que seja tomada uma providência.
A reportagem da Folha tentou falar com um dos arrozeiros citados pelos indígenas, Paulo César Quartiero, mas os telefones para contato com o produtor não atendiam. Além disso, o celular estava desligado.
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