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Índios querem melhorias nas aldeias dos parques Xingu e Aripuanã

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
30 de Mar de 2004

Um grupo de índios cinta-larga, do município de Juína, e yawalapiti, do Xingu, se reuniram nesta terça-feira (30) com o governador Blairo Maggi para entregar pautas com reivindicações para as respectivas etnias.

O cacique cinta-larga, Papai Grande, solicitou ajuda do Governo para que os indígenas possam sobreviver em suas terras de acordo com a própria cultura. "Índio não quer ficar deitado, quer trabalhar", disse o cacique.

Ele disse ainda que as aldeias não têm recebido qualquer ajuda da Fundação Nacional do Índio (Funai). Entre as reivindicações apresentadas estão a recuperação das estradas que passam dentro da reserva, localizada no Parque Nacional do Aripuanã; atendimento médico; incentivo para ampliação das lavouras, para que possam comercializar o plantio fora das aldeias; e professores para atuarem dentro da reserva. Papai Grande disse também que é a primeira vez que sai da aldeia para conhecer a forma de governar e administrar do homem branco.

De acordo com o cacique Ricardo Vieira, da aldeia Serra Morena, a mortalidade infantil é outro problema preocupante para os índios. Entre 300 indígenas que vivem na área do Parque do Aripuanã dentro de Mato Grosso, cerca de 60% são crianças.

O governador Blairo Maggi ouviu atentamente as reivindicações dos cinta-larga, afirmando que os povos indígenas devem ganhar mais liberdade para trabalhar, usando os recursos naturais disponíveis dentro das reservas.

O governador disse também que encaminhará os pedidos ao Governo Federal. Maggi propôs ainda a realização de um fórum de discussão, envolvendo todas as sociedades indígenas de Mato Grosso, para que possa ser elaborado um conjunto de ações consensuais, que visem o atendimento a todas as etnias.

EXPLORAÇÃO DE MADEIRA

Antes nômades, vivendo da caça, pesca e colheita de frutos nativos, hoje, com a delimitação das áreas indígenas, o espaço para os cinta-larga ficou pequeno e a comunidade não tem qualificação suficiente para a agricultura de subsistência, vivendo somente do que pescam e caçam.

Conforme o geólogo José Seixas, que integra o grupo de trabalho da Superintendência de Política Indígena do Estado, a base financeira da etnia atualmente é a exploração de madeira, atividade que não conta com a anuência da Funai.

Somente em 2003, cerca de 1,2 milhões de metros cúbicos de madeira foram extraídos clandestinamente da reserva Cinta-Larga. De acordo com Seixas, os madeireiros pagam os índios com máquinas e produtos velhos ou defasados, sem reversão de benefícios para as comunidades.

Conforme ele, a intenção da superintendência, é implantar nos parques do Aripuanã e Xingu, um projeto de manejo para extração legal e sustentável de madeira. Porém, a ação esbarra na proibição da Funai que não permite a exploração em área indígena.

Segundo o engenheiro florestal Roberto Juliano Serra, da Superintendência de Política Indígena, há um caminho legal para que a madeira seja extraída de forma correta. A Medida Provisória 1956, do Governo Federal, permite a extração em terras indígenas com manejo e recuperação da área explorada.

"Particularmente, eu apoio a idéia de exploração dos recursos naturais com critérios, com benefício para as comunidades", afirmou o governador, que na ocasião recebeu convite para visitar as sete aldeias cinta-larga. Maggi programou a reunião com os cinta-larga durante visita que fará ao município de Juína.

Sobre a recuperação das estradas, o governador destacou que encaminhará a solicitação à Secretaria de Estado de Transporte (Seet) para avaliação dos trabalhos, que devem ser iniciados após o perídodo de chuvas.

YAWALAPITI

O cacique Aritana, do Parque Nacional do Xingu, também apresentou reivindicações da etnia ao governador. Entre os pedidos apresentados estão a construção de uma balsa sobre o rio Xingu, para o transporte, principalmente, de alimentos e remédios; e a melhoria do ensino nas aldeias.

O pedido de transporte fluvial será encaminhado à Seet. As reivindicações na área de Educação foram apresentadas à secretária de Estado de Educação pelo o cacique Aritana e os cinta-larga em reunião nesta tarde. O cacique Aritana entregou ao governador um calendário com fotos das aldeias do Xingu.

CINTA-LARGA

São cerca de 1,3 mil índios vivendo no Parque do Aripuanã, em uma área de 1,6 milhão de hectares, entre os estados de Mato Grosso e Rondônia. Conforme o chefe de posto, Valdenilton Evangelista de Souza, em Serra Morena vivem cerca de 300 cinta-larga, espalhados em sete aldeias, em uma área de 147 mil hectares em Juína, única reserva exclusiva da etnia no município, que conta com oito postos indígenas da Funai.

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