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Índios querem invasores fora

A Crítica-Manaus-AM
12 de Mar de 2002

Quarenta e três fazendas e cerca de 500 garimpeiros, de acordo com informações da Fundação Nacional do Índio (Funai), continuam a perturbar a vida dos índios ianomâmis após dez anos da demarcação de seu território tradicional, entre os Estados do Amazonas e Roraima. Em razão da ameaça representada pelos invasores, os ianomâmis exigem da Funai a definição de uma data para liberar a área.

Em reunião realizada no último domingo, na maloca mauuxiutheri, região do rio Catrimani, Município de Caracaraí (a 300 quilômetros de Boa Vista), tuxauas e lideranças dos ianomâmis das regiões de Catrimani e Ajarani reiteraram exigência feita há um ano ao administrador regional da Funai de Boa Vista, Martinho Alves de Andrade Júnior. Eles exigem providências e uma data definitiva para a retirada de garimpeiros e fazendeiros.

"Estamos cansados de fazer documento e nem Funai nem o Governo Federal tiram os fazendeiros da nossa terra. Queremos que a Funai diga quando vai tirá-los de lá porque queremos ir junto para ter certeza que ela os retirou", reclamou o tuxaua Ademar, da maloca mamapiitheri.

Os ianomâmis mostraram-se preocupados com o futuro das aldeias ante a devastação das matas, poluição dos rios e igarapés, e surgimento de doenças. Ao longo da BR-210 (Perimetral Norte), construída na década de 70 e que corta a terra dos ianomâmis, num trecho de 105 quilômetros dentro da floresta, é visível a devastação de imensa área.

Em outras regiões, sobretudo Catrimani, Paapiu e Parafuri, é o garimpo que causa transtornos, como poluição dos igarapés, destruição da mata para construção de pistas de pouso, disseminação de doenças, desaparecimento de animais de caça e pescado, e desestruturação social nas malocas com a introdução de comportamentos antes inexistentes entre os indígenas. Eles temem a ocorrência de massacres tal como na década de 80, quando a invasão de seu território tradicional por mais de 40 mil garimpeiros custou a vida de 20% da sua população.

O "xapori", (pajé) André, da maloca mauxiuxiutheri, expressou assim a sua preocupação: "os garimpeiros estão cavando muito fundo a terra. Se continuar a cavar fundo, os 'xaporis' não poderão mais fazer 'cura' e todo mundo vai morrer."

Respondendo aos indígenas, Martinho Alves informou que o Governo Federal, por meio da Funai, está realizando levantamento junto aos fazendeiros para que sejam indenizados e retirados do local. Quanto à demora nas providências, ele explicou que todos os procedimentos governamentais costumam ser definidos em longo prazo. Segundo Martinho, dos 43 invasores três entraram com ações judiciais e as indenizações dependem da decisão da Justiça. Desde o ano passado foram criados grupos de trabalho para fazer levantamento em todas as fazendas, porém os proprietários das fazendas estão adquirindo e avançando sobre as terras já indenizadas na tentativa de elevar o valor das suas posses.

"A Funai não está parada. Nós sabemos quantos fazendeiros ainda restam e temos informações da presidência do órgão que o Governo Federal dispõe de recursos para retirar os proprietários, faltando apenas definir que são os ocupantes de boa fé ou não."

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