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Índios querem fim da invasão de suas terras

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Juracy Xangai
23 de Dez de 2004

Asheninka ameaçam guerra a madeireiros peruanos que fazem retirada ilegal de madeira em áreas protegidas

Cansados de denunciar, desde 1999, a invasão da Terra Indígena Asheninka do Rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo, por madeireiros peruanos, os índios asheninka da aldeia de Apywtxa decidiram declarar guerra aberta aos invasores.

Os guerreiros da aldeia de Apywtxa, que abriga 383 moradores, estão desde ontem preparando suas armas para o ataque que deve começar a partir de hoje. "Nosso pessoal foi espiar os acampamentos dos peruanos para saber onde estão, quantos são e como estão trabalhando. Nossa intenção é prender todos eles e a partir de agora vamos fazer o mesmo com todos os que estiverem invadindo nossas terras", explicou dona Francisca Oliveira da Silva, mais conhecida como "Piti", esposa do chefe de Apywtxa, Antônio Pinhanta.

Segundo Piti, as incursos feitas pelos soldados do Exército e agentes da Polícia Federal, não tem conseguido resolver o problema porque quando eles chegam os invasores fogem para o Peru, os soldados explodem as toras que encontram e assim que eles vão embora os invasores voltam e derrubam outras árvores.

"Na semana passada o helicóptero do Exército esteve aqui na aldeia, deixou algumas peças de madeira serrada e antes de ir embora avisou que só voltam em fevereiro. No dia seguinte a gente já ouvia, aqui mesmo da aldeia as motosserras derrubando mais árvores. Eles não saem daqui, por isso nós temos de reagir", desabafou Piti.

Batalha anunciada - A decisão foi comunicada ao governo do Estado através de carta entregue ontem pelo representante de Apywtxa, Isaac da Silva Pinhanta, no gabinete do presidente do Instituto de Meio ambiente do Acre, Edegard de Deus, e à Superintendência da Polícia Federal no Acre, delegado Paulo Bezerra.

Na carta datada de 21 de dezembro, ele denuncia as invasões sistemáticas iniciadas em 1992 pelas máquinas e mateiros do empresário e ex-governador Orleir Cameli, que por isso foi condenado pela Justiça Federal a pagar uma indenização de R$ 40 milhões à comunidade asheninka do Amônia. Dívida que nunca foi paga.

Lembram, que a situação se agravou ainda mais a partir de 199 quando grupos de madeireiros peruanos passaram a invadir suas terras, também em busca do Mogno que é hoje uma das madeiras mais valorizadas do mundo com cotações que variam entre cinco e doze mil dólares o metro cúbico no mercado internacional.

Destacam o fato de a União ter sido condenada pela Justiça Federal a oferecer a proteção constitucionalmente prevista à integridade das terras e das propriedades, bem como à própria população asheninka. "A gente reconhece que eles tem se esforçado, mas não vem sendo o suficiente, pois enquanto não houver um quartel ou alguma forma de policiamento permanente naquela área nossas terras continuarão sendo invadidas por aqueles que desejam transformar nossa riqueza natural em dinheiro".

Isaac partiu na tarde de ontem de Rio Branco para Cruzeiro do Sul a fim de reunir-se com outras lideranças a fim de chegar à comunidade ainda hoje para ajudar na operação de guerra. "Nossa intenção é prender os madeireiros, apreender suas ferramentas e madeiras que estão nos roubando, afinal de contas nossa comunidade está sendo diretamente prejudicada por essa situação. Não queremos ferir ninguém, mas se eles reagirem, nós vamos fazer o que for necessário para defender o que é nosso".

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