Índios pedem homologação à ministra

Coordenador do Conselho Indígena de Roraima conduz Marina ao encontro

Na reunião realizada na tardem de ontem no Conselho Indígena de Roraima (CIR), a ministra do Meio Ambiente, Maria Silva, e sua comitiva foram recepcionados por representantes de várias comunidades do Estado e coordenadores regionais. Também estavam presentes técnicos, representante do governo estadual, o presidente do Ibama e a secretária da Amazônia.

A reunião serviu para tratar das queimadas nas florestas e nos lavrados dentro das áreas indígenas. O CIR comunicou que está sendo solicitado às 238 comunidades que não façam roças utilizando queimadas. Os índios aproveitaram para fazer um pedido especial para que a ministra apóie a homologação da área Raposa/Serra do Sol em área continua, para que os "invasores sejam retirados como forma de garantir a preservação ambiental'.

Na oportunidade, foi entregue uma carta relatando problemas que vêm ocorrendo dentro das terras indígenas. A leitura do documento, feita por Marinaldo Trajano, da região do Baixo Cotingo, citou os projetos que incidem nas terras indígenas sem estudo de impacto sócio-ambiental, como interiorização do linhão de Guri, a construção de hidrelétrica e do 6o PEF (Pelotão Especial de Fronteira), além de lixões dentro das terras.

Trajano comentou ainda que apesar do território Yanomami estar com processo demarcatório concluído, os garimpos e fazendeiros prejudicam o habitat natural com poluição, desmatamento e queimadas. O destaque foi para a presença dos rizicultores na Raposa Serra do Sol. "Além de invadirem nossa área, estão causando danos irreparáveis à natureza. Milhares de pássaros já morreram, matas nativas foram destruídas e os rios estão contaminados", denunciaram os índios no documento.

A contaminação dos rios Tacutu, Surumu e Cotingo, segundo o documento, tem causado doenças de pele em crianças e as mulheres grávidas sofrem abortos. "Temos a esperança que esses relatos possam servir de ponto de partida para a busca de soluções emergentes, mas tememos que com o ciclo de novas plantações se agravem as conseqüências", diz um trecho da carta.

Assinada pelo coordenador geral do CIR, Jacir José de Souza, e por Telmar Mota, presidente da Associação dos Povos Indígenas do Estado de Roraima (Apirr), a carta enfatiza que está sendo solicitado aos tuxauas para que orientem suas comunidades a evitar o uso do fogo para queimada de roças nesse período considerado crítico.

POSIÇÃO - A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que a secretária da Amazônia, Mary Alegretti, e o presidente do Ibama, Marcus Barros, junto com alguns técnicos vão continuar mais alguns dias em Roraima para poder discutir e receber as propostas sobre a questão das queimadas, principalmente dentro das áreas indígenas.

Como as lideranças indígenas reivindicam que seja dado tratamento diferenciado ao que está sendo feito para os agricultores, o compromisso firmado foi que elaborasse um documento destacando as prioridades.

A ministra disse ainda que os índios deverão avaliar à luz de seus interesses sugestões, como programas alternativos de desenvolvimento para evitar a queimadas e em relação à indenização para os que não colocarem fogo.

Ao final da reunião, o coordenador do CIR entregou à ministra um mapa do Estado desenhado a mão, dando destaque às terras ocupadas pelos arrozeiros. Ele disse estar preocupado com essa situação, pediu para a ministra apoio a fim de dar agilidade na homologação da área Raposa Serra do Sol em área contínua.

A ministra disse que os todos os documentos serão analisados, especialmente o que envolve a homologação das terras. "Além de conversar com o presidente Lula, encaminharemos tudo que recebemos aqui para cada ministério", afirmou Marina.

Outro item colocado pela ministra na reunião foi quanto à mudança dos gerentes executivos do Ibama em nível de Brasil, que deverá ser feita em breve, "para que seja construído um novo momento entre o órgão, as comunidades indígenas e a população em geral".