A Tarde-Salvador-BA
Autor: Letícia Belém
04 de Jun de 2003
São 120 moradores de Coroa Vermelha impedidos de entrar em suas propriedades devido à ocupação das terras
Os índios pataxós de Coroa Vermelha, sob a liderança do Cacique Carajá, bloquearam a estrada que dá acesso a 38 fazendas que ficam no entorno da Reserva da Jaqueira e começaram a invadir várias propriedades particulares, alegando que aquele território é indígena. São 120 moradores que estão impedidos de entrar nas terras e residências a partir da ponte do Rio Itinga, e se as que estão lá dentro saírem, estão proibidas de retornar. "Nós queremos que os outros fazendeiros liberem as terras para a gente.
Esta área era nossa antes de os fazendeiros chegarem e vamos lutar para retomá-la. Estamos agora esperando alguém da Funai chegar para indenizar os proprietários e liberar para a gente trabalhar na terra, porque iremos nos apossar de tudo", avisou o índio Jaguatiri.
Outros pataxós estão programando invasões em várias propriedades particulares distantes cerca de 15 quilômetros da praia em direção ao interior da mata. Jaguatiri informou que mil já estão na Jaqueira. "Estamos esperando nossos parentes chegarem das aldeias de Mata Medonha, Barra Velha, Biriba, Boca da Mata, Aldeia Nova, Águas Belas, Aldeia Velha, todas em Porto Seguro e Cabrália, para nos darem apoio".
INVASÕES - Oduvaldo Souza, proprietário da Fazenda São Benedito, no Vale do Itinga, em Porto Seguro, conta que estava em casa com a família no domingo à tarde, quando um grupo de 30 índios entrou na propriedade dizendo que ele teria que desocupá-la. "Estava com minha esposa, três filhos e três netos pequenos e eles entraram com cacetes
e começaram a revirar a casa inteira, mexendo nas gavetas e embaixo da cama. Acho que procuravam armas. Queriam que retirasse tudo de dentro da casa e tive que sair no mesmo dia. Só trouxe o essencial".
Ele conta que quando comprou a propriedade de 20 hectares, há 14 anos, lá não havia nada, somente pau queimado e hoje planta coco, graviola, banana-da-terra, melancia, milho e flores.
O ex-secretário de Meio Ambiente de Porto Seguro, Euclides Senna, acompanhado de dois funcionários de um hotel, tentou chegar até a fazenda de seu irmão, Cícero, próximo ao loteamento Novo Paraíso, em Santa Cruz Cabrália, onde outro grupo de pataxós bloqueou o acesso com cerca e arame. Chegando lá, ele e as duas pessoas foram feitas
reféns por aproximadamente quatro horas.
Atualmente, em Coroa Vermelha vivem quatro mil índios em uma área de 1.625 hectares, sendo que 50% dela é destinada à preservação ambiental. Eles vivem do artesanato e em época de baixa temporada mal conseguem sobreviver. "Lá não há espaço para plantar e nem como abrigar toda a população indígena. Se não tomarmos agora a iniciativa de retomar essas áreas, nossas crianças irão passar fome. Não dá para viver do artesanato, porque o turismo está muito fraco, mas da agricultura com certeza dá", desabafou Jaguatiri.
Segundo informações da Polícia Federal, isso é uma invasão ou esbulho processório, porque os índios já tiveram suas áreas demarcadas pelo governo federal e todas as propriedades particulares possuem documentos registrados no cartório de imóveis.
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