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Índios Pareci cobram crédito para produzir mais soja em MT

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: MARCONDES MACIEL
22 de Mar de 2004

Eles pedem crédito e afirmam que estão preparados para plantar grandes lavouras de soja

Pareci garanter ter "conhecimento prático" sobre a soja e o que lhes falta é somente crédito

Índios da reserva Pareci, nos municípios de Campo Novo, Sapezal e Tangará da Serra, regiões Norte e Médio Norte de Mato Grosso, vão encaminhar nas próximas horas documento às autoridades cobrando a intervenção do governo junto ao Ministério da Agricultura e Reforma Agrária para a liberação de linhas de financiamento para o plantio de soja em áreas indígenas. O governo federal oferece atualmente o Pronaf B para o atendimento das comunidades indígenas, porém o valor do crédito (R$ 2 mil por família) é considerado insignificante para o plantio e cuteio da safra.

"O índio já adquiriu os conhecimentos necessários para desenvolver grandes lavouras de soja e tem terra fértil para plantio. Mas, como plantar se não temos dinheiro?", questiona Mirim Kazaizokairo, da aldeia Bacaval, em Campo Novo do Pareci.

Ela proferiu palestra ontem no 1o Fórum de Saúde e Alimentação à Base de Soja e mostrou a experiência dos índios Pareci como produtores de soja. Ela aproveitou também para cobrar uma postura mais contundente do governo em relação à questão do crédito.

Mirim informou que com o desenvolvimento da agricultura e a expansão da fronteira agrícola, não resta outra alternativa para os índios senão buscar conhecimentos daqueles que estão ao seu redor para desenvolver técnicas para plantio de soja em grandes áreas. "Não podemos ficar parados, pois o índio não conseguirá sobreviver só de costumes, tradições e artesanato. A saída está mesmo na agricultura em larga escala", frisou.

Segundo Mirim Kazaizokairo, o bom resultado com a experiência da soja desenvolvida na aldeia causou entusiasmo nos índios Pareci. Com o apoio da Prefeitura de Sapezal, que doou sementes e insumos, os índios abriram uma área de 60 hectares e conseguiram colher mais de três mil sacas de arroz na aldeia Bacaval. A experiência com o arroz continuou até 1996, quando os índios decidiram, em parceria com a empresa Sementes Maggi, produzir soja em uma área de 80 hectares. Novamente os Pareci obtiveram êxito com a colheita, mas tiveram que interromper o projeto devido a uma ação do Ministério Público que impediu a venda de insumos aos índios.

Em 2002, os Pareci procuraram outra empresa em Campo Novo, que financiou a semente e o adubo, em uma área de 130 hectares. No ano passado, os índios repetiram a dose e colheram mais de 7 mil sacas de soja, com uma média de produtividade de 55 sacas por hectare.

"Os resultados com a lavoura de soja mostram que o índio está preparado para desenvolver a atividade com as mesmas chances de sucesso de um produtor tradicional", observou o cacique João Arrezomai, da aldeia Kotitiko, em Tangará da Serra.

Segundo ele, o índio está preocupado com o seu próprio futuro e, por isso, vem buscando saídas para melhorar a sua qualidade de vida. "O índio tem conhecimento prático e experiência para desenvolver grandes projetos. Tudo o que precisamos é de crédito", frisou Arrezomai.

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