VOLTAR

Indios paraguaios buscam auxilio em Mato Grosso do Sul

FSP, Brasil, p.A12
08 de Mar de 2005

Guaranis-caiuás cruzam fronteira para obter tratamento
Índios paraguaios buscam auxílio em Mato Grosso do Sul
Hudson Corrêa
Da agência Folha, em Campo Grande
Em busca de assistência médica, índios guaranis-caiuás estão vindo do Paraguai para as aldeias de Mato Grosso do Sul, onde passam a morar em casas de parentes da mesma etnia, segundo a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e lideranças indígenas. Em pelo menos duas aldeias, a população quase dobrou.
Os guaranis-caiuás de Mato Grosso do Sul estão sofrendo com a desnutrição, que matou oito crianças menores de cinco anos neste ano, conforme número admitido pela Funasa. O índice de mortalidade infantil chega a 96 por mil nascidos vivos em aldeias mais ao sul do Estado (a média do Brasil é 24 por mil).
O capitão (líder máximo) da aldeia de Porto Lindo em Japorã (464 km de Campo Grande), o guarani Vanderlei Pedro Gonçalves, 30, disse que a população na área indígena, localizada a 10 km da fronteira, aumentou de 2.800 para 4.300 nos últimos dois anos.
O resultado, segundo o prefeito de Japorã, Rubens Marinho (PT), é que os índios representam 40% da população do município. Segundo Gonçalves, o crescimento no número de moradores na aldeia ocorreu por causa da vinda de índios guaranis do Paraguai.
"Para o índio não existe fronteira", afirma o capitão da aldeia Bororó, o índio guarani Luciano Arévolo, 50, referindo-se ao tekoha (território sagrado) dos guaranis, que abrange áreas contínuas em território brasileiro e paraguaio. Segundo ele, as aldeias localizadas próxima à fronteira recebem mais parentes paraguaios do que Dourados.
O diretor do Departamento de Saúde Indígena da Funasa, Alexandre Padilha, atribuiu o aumento no índice de mortalidade infantil, que chegou a triplicar em aldeias da fronteira, à vinda de índios do país vizinho. Mas apenas uma entre dez crianças atualmente internadas no hospital de Dourados veio do Paraguai.
Na aldeia de Amambaí (393 km de Campo Grande), onde 19% das crianças menores de cinco anos estão desnutridas e a mortalidade infantil é de 96 por mil nascidos, cerca de 8.000 índios vivem em 2.429 hectares. No fim da década de 90, a população era de cerca de 4.500 índios.
Na assistência à saúde, a Funasa não leva em conta a origem dos índios. Todos são atendidos.
O agente de saúde da Funasa na aldeia de Porto Lindo, o índio guarani Avelino Lopes, 28, diz que não há como saber quem veio de fora porque muitos não têm documentos. Lopes disse que existe um grupo encarregado de trazer índios doentes do Paraguai e deixá-los na aldeia.
Além da assistência médica, a busca por terras também atrai novos moradores a Porto Lindo, diz o prefeito de Iguatemi (cidade vizinha à aldeia), Lídio Ledesma (PDT). Ele é o dono do hospital que atende índios pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Em janeiro de 2004, cerca de 3.000 guaranis de Porto Lindo invadiram 14 fazendas localizadas a 10 km das aldeias. No início de fevereiro daquele ano, os índios deixaram nove áreas, mas ficaram acampados em parte de outras três. Eles reivindicam a posse de 9.000 hectares. A disputa com ruralistas está na Justiça.
O cônsul do Paraguai em Campo Grande, Juan Melcíades Pedrozo, 63, disse não ter informações sobre a migração indígena.
A empresa Itaipu Binacional (Foz do Iguaçu, Paraná), segundo Padilha, está montando com a Funasa um projeto de assistência aos índios paraguaios na faixa de fronteira.

FSP, 08/03/2005, p. A12

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.