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Índios ocupam base militar na Colômbia

O Globo, O Mundo, p. 28
14 de Jul de 2012

Índios ocupam base militar na Colômbia
Grupo demanda a desmilitarização da região onde caiu um Super Tucano

TORIBÍO, Colômbia. Fartos dos confrontos entre as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e militares colombianos no departamento de Cauca, pouco mais de cem índios nasas desalojaram tropas do Exército de uma base militar próxima de Toribío. A invasão foi uma resposta à declaração do presidente Juan Manuel Santos de que não pretende desmilitarizar a região. Os índios se declararam neutros no conflito e defendem a retirada de soldados e guerrilheiros.
Diante do impasse, os nasas pediram a intermediação do ex-juiz espanhol Baltasar Garzón - por conta de seu histórico de defesa de povos indígenas na região - nas negociações com o governo.
- Não digo o termo mediar, porque não desejo usar essa expressão, mas é verdade que houve o pedido e que estamos trabalhando há semanas neste tema - disse Garzón à agência EFE.

Aviões foram peças-chave no combate à guerrilha
Cauca é cenário de forte presença de grupos armados ilegais por se tratar de um corredor entre a Amazônia e o Oceano Pacífico, o Equador e o Vale do Cauca. É também o departamento mais afetado pelos confrontos entre as Farc e o Exército, que acabam atingindo também a população civil. Toribío é justamente o município mais prejudicado: nos últimos três anos foram registrados mais de 400 ataques armados, dos quais três deixaram a cidade semidestruída.
Os integrantes da chamada Guarda Indígena desmontaram guaritas da base militar e cobriram as trincheiras que protegiam as antenas de telecomunicações civis de Toribío. Os confrontos na região haviam deixado um menino morto e ao menos 15 civis feridos nos últimos dias.
- Os militares não conseguem nos proteger, e as guerrilhas não nos representam - disse Luís Alberto Mensa, chefe regional da Guarda Indígena. - Todos eles precisam deixar esta área e nos deixar viver em paz.
O presidente Juan Manuel Santos, que chegou a ser vaiado em um encontro com indígenas na quarta-feira, disse que o governo não vai ceder.
- Também estamos cansados da guerra, mas por nenhum motivo podemos desmilitarizar um só centímetro de nosso território - disse.
Foi a poucos quilômetros de Toribío que, na última quarta-feira, caiu um avião Super Tucano da Embraer a serviço da Força Aérea Colombiana, com duas vítimas, o piloto Andrés Serrano Lemus, de 29 anos, e o técnico Óscar Castillo, de 38 anos. As Farc disseram ter sido responsáveis por derrubar a aeronave. A versão foi contestada pelo governo por conta da velocidade média do Super Tucano, de cerca de 500 quilômetros/hora, da altitude elevada de voo e do equipamento necessário para derrubá-lo. Especialistas dizem que seria preciso contar com mísseis terra-mar. Há tempos as Farc tentam obter o armamento.
Mas como a região tem sido palco de constantes confrontos e tem forte presença de guerrilheiros das Farc, somente a investigação deve apontar a causa da queda da aeronave. Em comunicado assinado pela coluna "Jacobo Arenas", o grupo disse que desde 3 de julho tem atacado o Exército que se abriga na região urbana de Jambaló. "O último combate deixou como resultado a derrubada de um avião Super Tucano por nossa artilharia antiaérea e a morte de seus dois tripulantes", disse a nota.
Os Super Tucanos têm sido fundamentais na estratégia de combate do governo à guerrilha. Eles foram usados nas operações que resultaram na morte de líderes como Raúl Reyes e Mono Jojoy. A Colômbia conta com 25 aeronaves deste modelo.
O avião saiu da base aérea Marco Fidel Suárez, em Cali, na tarde de quarta-feira, com destino a Jambaló. Às 17h, o piloto relatou uma falha no motor em conversa com a torre de controle. O avião caiu nas montanhas ao leste de Jambaló, e pouco depois as Farc informaram, por telefone, ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha que estavam com os dois cadáveres. Ontem, o Corpo de Bombeiros resgatou o corpo de Castillo, e as Farc entregaram no começo da tarde o corpo do piloto à Cruz Vermelha. A autópsia realizada ontem, em Bogotá, mostrou que eles não tinham rastros de explosivos.
- Morreram por politraumatismo: múltiplas lesões e fraturas. Os corpos não tinham marcas de balas ou estilhaço de explosivos - disse Carlos Valdés, diretor de Medicina Legal.
Ainda assim, Gustavo Serrano, pai do piloto, disse ontem à Rádio Caracol que o filho já havia relatado disparos de morteiros artesanais lançados pelos guerrilheiros contra a aeronave em suas últimas missões. O avião fazia parte da segurança ao presidente Santos e realizava operações de contrainsurgência.
- O desejo máximo dele era o Super Tucano e lutou até que isso se tornasse realidade.

O Globo, 14/07/2012, O Mundo, p. 28

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