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Índios negam invasão e cobram acordo com Vale

OESP, Economia, p. B5
03 de Nov de 2005

Índios negam invasão e cobram acordo com Vale
Em nota, empresa afirmou que estava sendo ameaçada e pediu garantias à Justiça; lideranças dos xikrins e Funai garantem que instalações não foram ocupadas

Carlos Mendes
Colaboraram: Nicola Pamplona e Sérgio Gobetti

As principais lideranças dos índios xikrins da aldeia Cateté, no sul do Pará, negam que tenham invadido as instalações da Companhia Vale do Rio Doce em Carajás para constranger funcionários da empresa e fazer "exigências absurdas", segundo comunicado distribuído ontem pela Vale. Os índios afirmam que ficaram acampados num bosque com o objetivo de chamar a atenção da Vale para pontos de um acordo judicial que a empresa não estaria cumprindo. A empresa garante que está respeitando o acordo e acusa os índios de radicalização. Segundo a empresa, os invasores reivindicam mais dinheiro para as comunidades indígenas próximas à mina, a 850 quilômetros ao sul de Belém, de onde a companhia extrai 85 milhões de toneladas de minério de ferro por ano.

De acordo com o administrador da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Belém. Eimar Araújo, antes de a Vale ser privatizada ela foi obrigada a assumir com os xikrins vários compromissos para que a tribo permitisse a passagem por suas terras dos trilhos que levam o minério de ferro do Pará até o Porto de Itaqui, no Maranhão. Esse acordo estabelece a aplicação de recursos em cinco subprogramas de educação, saúde, atividades produtivas, fiscalização de terra e administração do próprio convênio. "O repasse de recursos é previsto em lei. A Vale tem a obrigação de prestar assistência às comunidades da área de influência, não só às comunidades indígenas. Então, não há favor ou cortesia nisto. É uma determinação judicial", afirmou Araújo.

Ele nega que os índios tenham provocado distúrbios na vila residencial dos empregados da empresa, onde vivem 4,5 mil pessoas, e afirma que estava no local e não viu nenhuma agressão, como alega a Vale. Segundo Araújo, alguns índios estavam alterados e querendo resolver sozinhos os problemas com a empresa, mas ele conseguiu acalmá-los. Os cerca de 280 índios deixaram o local na terça-feira.

Em nota, a Vale diz ter destinado este ano R$ 19 milhões para programas de apoio às comunidades indígenas na área de influência das atividades da empresa no Pará e no Maranhão. "Somente para a comunidade xikrin foram destinados cerca de R$ 6 milhões". A Vale também se queixa que os índios já chegaram a exigir um avião bimotor, carros de luxo, milhares de litros de gasolina e que a empresa pagasse despesas pessoais dos xikrins em lojas de Marabá e Parauapebas. A empresa informou que foi à Justiça tentar impedir novas invasões.

"Com tal agressão, as lideranças indígenas pretendem pressionar a Vale na tentativa de benefícios adicionais aos que a empresa voluntariamente já oferece", afirma a companhia, no comunicado divulgado ontem. A empresa e a Funai negociam com as comunidades próximas a instalações da Vale o volume de recursos para investir nas aldeias em 2006.
Ontem o presidente da Funai, Mércio Gomes, afirmou que a invasão a notícia da invasão às instalações da Vale em Carajás precisa ser melhor avaliada. "Não sei se é sinal de ebulição interna ou algo extemporâneo", disse Gomes, ressaltando que há dois anos a Funai intermediou uma negociação entre a Vale e as comunidades indígenas da região das minas.

Na ocasião, os índios reivindicavam benefícios que custariam R$ 30 milhões anuais à empresa e acabaram aceitando R$ 15 milhões. Só os xikrins recebem atualmente R$ 6 milhões, mas passaram a exigir o triplo disso - R$ 18 milhões - para interromper suas ações, valor considerado alto pela direção da Vale.

Segundo Gomes, a nota divulgada ontem pela Vale - sugerindo uma ação criminosa contra os interesses nacionais - é inadequada e desproporcional ao episódio. "Os índios não estavam com armas de fogo, e sim com suas armas tradicionais, como arco e flecha. Era uma atitude de força, mas não belicosa."

Nenhum executivo da companhia foi encontrado ontem para comentar o assunto.

OESP, 03/11/2005, Economia, p. B5

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