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Índios na disputa pela UnB

CB, Cidades, p. 29
15 de Mar de 2006

Índios na disputa pela UnB

Universidade de Brasília oferece 10 vagas no primeiro vestibular de graduação específico para indígenas
do país. Provas serão realizadas no domingo, em nove cidades, e atraem mais de mil candidatos

A convite de um primo, o índio da tribo funiô Aílton Venancio de Brito, 25 anos, decidiu sair do interior de Pernambuco e vir a Brasília tentar uma vaga no curso de graduação de ciências biológicas da Universidade de Brasília (UnB). Ele é um dos 1.176 candidatos a 10 vagas (leia quadro) da primeira seleção realizada por uma instituição de ensino superior no país, em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai). As vagas oferecidas são extras, e não fazem parte da oferta dos vestibulares e do Programa de Avaliação Seriada (PAS). As provas ocorrem no domingo, 19, em nove cidades brasileiras.

Aílton mora há cinco meses em Brasília. O primo, Clecildo de Souza Santos, que também vai tentar uma vaga na UnB, foi quem o convenceu a morar na capital do país. "Eu terminei o ensino médio no ano passado e logo que soube das vagas para índios me inscrevi na minha cidade, Águas Belas. Quando me mudei para cá, só transferi a inscrição", afirma.
Aílton, que foi aprovado em farmácia numa faculdade particular, divide o tempo para estudar com o trabalho em um salão de beleza na Asa Sul.

O convênio entre UnB e Funai foi firmado em 2004. No ano passado, houve a primeira seleção, com 15 alunos indígenas de faculdades particulares participando de um processo de transferência facultativa, nos mesmos cursos em que já estavam matriculados. Doze foram aprovados no exame, dos quais dois optaram por continuar na instituição em que estavam. Hoje, nove estudantes continuam nos respectivos cursos.

À universidade, além das vagas, cabe o acompanhamento psicopedagógico dos índios pelo Serviço de Orientação ao Universitário (SOU). Segundo o professor decano de ensino de Graduação da UnB, Murilo Camargo, o
trabalho será garantir a integração à vida acadêmica dos futuros universitários. "Pretendemos fazer com que eles se sintam confortáveis dentro da UnB", diz o professor. A universidade é a primeira do país a oferecer um vestibular específico de graduação para os índios. Até agora, somente a Universidade Estadual do Mato Grosso (Unemat) realizou
uma seleção, mas não era para cursos universitários.

Língua portuguesa

No primeiro ano de convênio, a UnB detectou dois problemas com os estudantes. A primeira
foi a necessidade de reforço no conhecimento da língua portuguesa. O apoio veio na oferta da disciplina português como segunda língua 1, numa ação articulada do Decanato de Ensino de Graduação (DEG) com o Instituto de Letras. A segunda dificuldade observada foi o pouco domínio da informática e de seus recursos.

Primeiro indígena a estudar na UnB, Vilson Francisco, 43 anos, conhecido como Matheus Terena, da tribo Terena, no Mato Grosso do Sul, busca a integração dos índios com a educação. Cursando o 5o período de ciências sociais, ele diz que sua visão de mundo muito depois de iniciar o curso superior. "Quando saí da minha aldeia, em 1981, não sabia
nem falar português direito. Hoje, ultrapassamos todos os obstáculos e já temos uma seleção somente para índios", comemora. Vilson, além de trabalhar na Coordenação Geral de Defesa dos Direitos Indígenas da Funai, também é vice-presidente da Associação dos Universitários Indígenas em Brasília (Assuib).

A seleção dos 1.176 índios que participarão do vestibular coube às regionais da Funai espalhadas pelo Brasil. Segundo a coordenadora de Apoio Pedagógico da fundação, Neide Martins Siqueira, o número de inscritos surpreendeu. "Esse alto número deve-se à excelência dos cursos da UnB e também ao fato de Brasília ser a capital do país", explica.

Concorrência Acirrada

1.176
candidatos índios disputam 10 vagas na UnB

Os cursos de ciências biológicas, ciências farmacêuticas, enfermagem e obstetrícia, medicina e nutrição oferecem duas vagas cada

O mais procurado é o de ciências farmacêuticas, com 366 candidatos, seguido de enfermagem e obstetrícia, medicina, ciências biológicas e nutrição

As provas serão realizadas em nove cidades: Belém (PA), Boa Vista (RR), Brasília (DF), Campo Grande (MS), Manaus (AM), Porto Seguro (BA), Recife (PE), São Gabriel da Cachoeira (AM) e Tabatinga (AM)

O local com mais candidatos é São Gabriel da Cachoeira, com 390. O menor número de inscritos está em Boa Vista, com 20. Em Brasília, são 43

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