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Indios lutam para ter educação diferenciadada

A Critica-Manaus- AM
Autor: Dione Santana
20 de Jun de 2001

Jecy Naldo Santeré é o primeiro indio a assumir um cargo de presidencia do Conselho Escolar de Educação Indigena

Educação diferenciada é o que o povo indígena almeja para construir suas vidas integradas às suas raízes, mas contextualizadas na sociedade branca. Representando a ansiedade de 60 etnias que ocupam o Estado do Amazonas, pela primeira vez um índio assumiu o cargo de presidente do Conselho Escolar de Educação Indígena. Jecy-Naldo Sateré, da tribo sateré, está há um mês na função e revela a necessidade de alguém que conheça a realidade de seu povo. Agradeço a participação do ex-presidente, o professor Ademir Ramos, mas temos que cuidar de nossos interesses.
A população indígena chega a 100 mil habitantes. Destes, mais de 25 mil estão matriculados em uma das 585 escolas espalhadas no interior do Amazonas. São 48 municípios, com exceção da capital, Manaus, onde ainda não existe escola indígena, informa Jecy-Naldo. Não aceitamos um currículo escolar elaborado por outra sociedade, em detrimento à nossa própria cultura, por isso defendemos a educação diferenciada, esclarece o sateré. É dessa maneira que o conselho desenvolve seu trabalho, assessorando as comunidades indígenas na aplicação da educação. Entre os professores que atuam nas escolas, 90% são índios.
A diferenciação foi oficializada há um ano e meio pela resolução 011 do Conselho Estadual de Educação, que regulamenta a criação e funcionamento da escola indígena. Ela garante um modelo pedagógico específico para cada etnia com idioma bilingüe, valorizando em primeiro lugar a língua-mãe e disciplinas interculturais. Todas as 585 escolas, mesmo localizadas em áreas indígenas, seguiam o modelo de educação rural, lembra Jecy, informando que o conselho travou uma luta para transformação da grade escolar. O trabalho foi difícil porque existia muita resistência política, falta de informação ou simplesmente a habitual discriminação, comenta o presidente, analisando que a atual situação está favorecendo conversa com o Governo Estadual. Mas é necessário definir a competência e se o ensino será Estadual ou Municipal, ressalta.
A antiga imagem de povo indígena ao redor de uma oca muitas vezes tem sido substituída por estudantes universitários e um número expressivo ocupando cargos políticos. Na região do Solimões, 13 vereadores são ticuna; no baixo Amazonas, três são sateré-maué; como vice-prefeito de Barreirinha, mais um sateré; e na região do Madeira, um vereador Mura, cita. Em todo o Brasil, 86 vereadores, seis vice-prefeitos e um prefeito representam o povo indígena. Tomando como base esses dados, a mudança é radical, considera Jecy-Naldo, comentando que o dever de ajudar seus irmãos e acabar com o sofrimento do povo fez com que muitos índios procurassem seu espaço na civilização não-índia. Quem pertence à classe alta pode imaginar o que uma classe inferior precisa, mas é só especulação, da mesma forma com os índios.
Caminhar com organização, solidariedade e construir sociedade indígena que transmita suas origens às futuras gerações não é utopia, diz Jecy-Naldo. Queremos a mesma ordem para outras sociedades negras e brancas.
Vergonha de ser chamado de índio é uma realidade. O presidente do Conselho de Educação Escolar Indígena, Jecy-Naldo, foi vítima disso. Daí sua preocupação em manter uma educação diferenciada. Não digo que o ensino branco seja ruim, mas ele destrói nossa cultura. Jecy conta que assim como ele, muitos jovens quando chegavam na fase escolar perdiam os laços porque a ênfase do estudo não contemplava a cultura indígena.
De acordo com ele, o importante é estimular a visão crítica dos jovens e o valor ao seu povo. Quem tem raiz, independente do lugar para onde vá, fora do Estado ou do País, não negará sua origem.
Poucas pessoas não-índias têm sensibilidade e respeito pelo índio, considera Jecy-Naldo. Mesmo depois de 500 anos de Brasil, ainda sofremos preconceito. Com a educação que pretendemos, o índio recebe ampla visão, que vai além da sala de aula. O índio precisa de computação, domínio do idioma português e das leis brasileiras para não ser enganado. Ele lembra que muitos órgãos, como a Fundação Nacional do Índio (Funai), se apresentaram como defensores do povo indígena. Mas segundo Jecy-Naldo, deixaram muito a desejar. Não queremos imposição do Governo, apenas colaboração, diz o presidente, informando que a meta do conselho para este ano é capacitar os professores indígenas para atender melhor as escolas, inclusive promovendo nível superior

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