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Índios lutam contra a miséria

Gazeta do Povo-Curitiba-PR
Autor: MARA VITORINO, TATIANA PALUCH E PATRÍCIA PINHEIRO
19 de Abr de 2002

Sem fontes de renda, alguns recorrem à mendicância ou dependem da ajuda da Funai

Os 10.375 índios que vivem atualmente no Paraná comemoram seu dia lutando para vencer a miséria. A maioria das 23 aldeias do estado - 17 localizadas em áreas regularizadas e outras 6 esperando a demarcação - vivem basicamente do plantio de milho, feijão e mandioca e da venda de artesanato. No entanto, a renda gerada por essas atividades tradicionais não é suficiente para suprir as necessidades das aldeias e alguns índios acabam se submetendo à mendicância ou dependem da ajuda da Fundação Nacional do Índio (Funai).

Pelo menos 25% dos 2.600 índios caingangues e guaranis que vivem em 19 mil hectares da Reserva Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras, a maior do Paraná, a agricultura que deveria ser a principal fonte de renda é decadente. As poucas máquinas da aldeia são velhas e não há nenhum tipo de financiamento ou assistência técnica. O artesanato dá cerca de R$ 5,00 por dia às famílias que vendem às margens de estradas movimentadas, correndo riscos de acidentes.

A situação de miséria é agravada pela alta taxa de natalidade. Em quatro anos, 600 crianças nasceram na aldeia. Das 520 famílias do lugar, 320 moram em barracos de lona e madeira, em miséria absoluta. O relato é do cacique Neoli Olíbio, 20 anos, que em vez de adereços no corpo, usa no braço uma tatuagem indígena. "Aqui a situação é lastimável. Não tem assistência. Precisamos plantar, mas não sabemos como, precisamos de assistência", diz.

Olíbio afirma que a agricultura na aldeia não supre nem 30% das necessidades das famílias. Numa área coletiva, eles plantam milho e feijão, além de uma horta comunitária que abastece a creche, o centro de saúde e duas escolas da aldeia. No ano passado, a colheita de milho foi de 8 mil sacas, vendida em cooperativa da região. A renda foi usada para comprar itens da cesta básica.

A situação dos índios foi agravada com o corte no repasse de verbas das prefeituras. As reservas INDÍGENAS perderam o direito de receber 50 % do ICMS Ecológico arrecadados por seus municípios sedes. Segundo o administrador executivo Regional da FUNAI de Guarapuava, Francisco Eugênio dos Santos, o direito era garantido por uma lei estadual, mas, em dezembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal concedeu liminar suspendendo a eficácia da lei.

Em Piraquara, região metropolitana de Curitiba, a aldeia Karugua, que abriga 53 índios, não pode plantar nem caçar e depende do dinheiro arrecadado com a venda do artesanato e de doações. O cacique da aldeia, Marcolino da Silva, aguarda a demarcação das terras para melhorar a qualidade de vida de seu povo. "Assim nós poderíamos plantar e ter uma vida mais parecida com a que tínhamos antigamente."

Enquanto em Piraquara eles sofrem pela falta de opções do que fazer, no Morro das Pacas, em Superagüi, o isolamento é o que castiga. "Nós estamos praticamente esquecidos aqui. Não temos barco e faz tempo que ninguém da saúde vem nos visitar. Para viver, plantamos milho, mandioca e feijão, mas às vezes falta comida", reclama o segundo cacique Nelson Ortega. O distanciamento dos brancos se reflete nas crianças, pois nem as mais velhas falam português.

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