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Índios Krahô estão retomando tradições seculares como o plantio de mandioca e milho

Jornal do Tocantins- Palmas-TO
Autor: Jorge Gouveia
27 de Jun de 2001

Projeto tenta acabar com a fome em aldeias

Dos dez milhões de índios existentes há 500 anos atrás, quando os europeus chegaram em Pindorama (nome pelo dado ao Brasil pelos indígenas, que significa terra das palmeiras), só restam pouco mais de 320 mil, espalhados em 215 nações que falam 170 línguas, desconhecidas da maioria dos brasileiros. No Tocantins cerca de 1.900 índios de 15 aldeias Krahôs, que vinham sofrendo com a fome da entressafra, estão sendo salvos da extinção devido a intervenção de pesquisadores da Embrapa que através do armazenamento de sementes e mudas nativas de mandioca, batata-doce, inhame e milho, possibilitaram o retorno da nação à agricultura tradicional.
Um seminário promovido pela Embrapa, Funai e União das Aldeias Krahô (Kapey), envolvendo todo o universo dessas questões, será aberto hoje às 19 horas no Theatro Fernanda Montenegro, no Espaço Cultural em Palmas, com o tema Segurança Alimentar e Resgate Cultural com Preservação dos Recursos Genéticos e da Biodiversidade. Serão debatidos principalmente o financiamento para projetos dessa natureza além dos direitos indígenas.
Retomada
Segundo as pesquisadoras do Centro de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa de Brasília, Rosa de Belém das Neves Alves e Marisa de Góes, que atuam no Estado, a implantação da monocultura de arroz nos anos 70 levou não só os índios, mas também alguns produtores a perderem sementes de suas culturas tradicionais. Com isso os indígenas sofreram muito mais porque deixaram seu cultivo de lavouras familiares, perdendo inclusive parte de sua tradição cultural que está sendo retomada agora.
Os pesquisadores da Embrapa e a comunidade científica acordaram para o fato e segundo Marisa Goes passou-se então a armazenar as sementes em câmara com temperaturas de -20 C., explica. De acordo com a pesquisadora, em 1995 os Krahôs procuraram a sede da Embrapa em Brasília e conseguiram localizar uma semente de milho, cultivado por outras etnias, mas similar àquele que eles cultivam. A partir daí um convênio entre Embrapa, Funai e União das Aldeias Krahôs (Kapey) permitiu o início do trabalho dos técnicos.
No seminário que será aberto hoje, as pesquisadoras informaram que será discutido principalmente o financiamento para projetos deste tipo. Ha uma característica interessante com a volta da cultura familiar da agricultura, pois eles estão retomando também sua cultura geral, seus ritos, festas e até trocas de sementes, comenta a pesquisadora Marisa. Por sua vez a pesquisadora Rosa acrescenta que até mesmo as crianças estão nascendo em número maior nas aldeias. Em dois meses, numa aldeia em que trabalhei, nasceram cinco crianças, comenta.
Fronteiras
Segundo as pesquisadoras, que fizeram vários cursos para trabalharem com os índios, entre eles o de língua Krahô e outro de Etnobiologia, todas as vezes em vão nas aldeias levam um profissional convidado. Geralmente especialista em alguma coisa que possa vir a contribuir com a comunidade indígena. Segundo elas, até o momento a Embrapa já foi procurada pelas comunidades Xavantes, Caiapós, Pataxós e Terenas.
A partir dessa primeira experiência é que vamos iniciar outros trabalhos, mas primeiro precisamos ter concluído este, explica a pesquisadora Marisa. Ela acrescenta que existe um grande interesse por parte de outros índios e que isso talvez até se estenda em breve aos Xerentes.
Quem são?
Etnia: Krahô
Número de Aldeias: 15 no Tocantins
População: Aproximadamente 1900
Habitat: Cerrado brasileiro
Localização: 320 mil hectares a Nordeste do Tocantins

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