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Índios fecham acesso à reserva Raposa/Serra do Sol

Folha de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: KÁTIA BRASIL
14 de Jan de 2004

Apoiados por fazendeiros, índios contrários à homologação da reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima, fecharam hoje os acessos à área indígena, segundo a Polícia Federal.

A 160 km ao norte de Boa Vista, barreiras de carro e madeiras fecharam as entradas da reserva por Pacaraima, na rodovia estadual 202, por Uiramutã, na ponte do Cotingo, e por Normandia, na ponte do Tacutu.

Na quinta-feira passada, quando a Polícia Federal desocupou prédios públicos e estradas federais por ordem judicial, os índios do movimento contrário a demarcação não desmobilizaram suas bases na reserva.

Mas o acesso só foi fechado completamente hoje, quando um reforço de índios chegou aos pontos do bloqueio e eles passaram a selecionar quem poderia entrar ou sair da área.

O superintendente da PF em Roraima, delegado Ianê Linário Leal, disse que a situação é bastante crítica e que a polícia só pode intervir se o Ministério Público Federal considerar que o caso é da esfera federal. As estradas bloqueadas são estaduais. Ele não soube precisar quantos índios participam dos bloqueios.

Por telefone celular, o índio Gilberto Macuxi, também presidente da Arikon (Associação Regional Indígena do rios Kinô, Cotingo e do Monte Roraima), disse que 14 tuxauas dirigem os bloqueios --que têm, segundo ele, o objetivo e impedir a entrada de missionários e representantes de ONG's (organizações não governamentais).

O CIR (Conselho Indígena Missionário), ligado à Igreja Católica e favorável à homologação da reserva, disse que os índios responsáveis pelos bloqueios nas estradas que dão acesso a reserva estão selecionando quem entra e sai da área.

"Temos que colocar uma fiscalização nossa dentro da reserva. Se ficar do jeito que está [demarcação contínua da reserva] e se ficarmos calados, eles [os índios do CIR] vão tomar tudo", disse Gilberto Macuxi.

A PF confirmou a seleção de pessoas para entrar na área. "Existem muitos índios nos bloqueios e o conflito pode se acirrar porque eles estão selecionados quem entra e sai da reserva", disse o delegado Ianê Linário Leal.

Hoje chegou à Boa Vista o coordenador geral de Projetos Especiais da Funai (Fundação Nacional do Índio), o indigenista Dinarte Nobre de Madeiro --que nos anos 90 ele acompanhou a demarcação e retirada de garimpeiros da reserva ianomami, em Roraima. A função dele é avaliar a extensão dos conflitos. A sede da Funai que foi invadida pelos índios ficou parcialmente destruída, com portas e arquivos arrombados.

O administrador substituto da Funai, Manoel Tavares, disse que órgão recebeu informações de que parte dos índios que fizeram reféns três religiosos na semana passada estavam embriagados com bebida fornecida pelos fazendeiros (a maioria plantadores de arroz). "Dar bebida aos índios é proibido por lei, e isso acirra mais o conflito na reserva", disse.

O coordenador do movimento dos rizicultores, Paulo César Quartiero, disse que a Funai é "preconceituosa" e "racista" quando fala dos índios, mas confirmou que os índios estão recebendo mantimentos.

"Nós trabalhos juntos, a sociedade de Roraima tem ajudado os índios porque estão numa situação difícil. O apoio é moral e na manutenção deles, alimentação", afirmou.

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