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Índios fazem oito reféns

O Liberal-Belém-PA
09 de Mai de 2001

Mais de 100 índios tembés e kaapors mantêm desde ontem como reféns oito funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Os servidores públicos estão em cárcere privado no prédio da Funai, em Belém. Os índios reclamam do tratamento médico que passaram a ter depois que a Funai repassou essa responsabilidade à Prefeitura de Paragominas. E se queixam ainda do avanço das madeireiras nas duas aldeias. Eles querem melhorias nos serviços de saúde e garantia do governo federal para manter as moto-serras longe das terras indígenas.Para libertar os reféns, os índios exigem, a princípio, a presença do presidente nacional da Funai, Glênio Alvarez, e do ministro da Saúde, José Serra. Alvarez disse por telefone que não tinha como viajar a Belém, mas se comprometeu a bancar a viagem de uma comissão de tembés e kaapors até Brasília para negociar. Os índios se recusaram.Os índios invadiram a sede da Funai de surpresa e trancaram os portões rapidamente, controlando a entrada e saída no órgão. Há algumas crianças no meio deles e muitos estão armados com lanças de madeira. Segundo o cacique Sérgio Muti Tembé, os agentes de saúde contratados pelo município estão humilhando os índios e negligenciando o tratamento dispensado aos índios, o que é crime. Eles se queixam que doenças como gripe, malária e coceiras na pele, além da meningite estão invadindo as aldeias.O indigenista Francisco Potiguara Tomaz Filho, da Funasa, confirma as denúncias dos índios tembés. Ele afirma que presenciou uma enfermeira recém-formada tratando os índios com a maior grosseria. Todas as reivindicações dos índios são justas, defende o indigenista, que também é refém dos índios.Os índios tembés e kaapors perderam a paciência várias vezes no momento em que negociavam com o administrador regional da Funai, Frederico Miranda de Oliveira. A idéia inicial era deixar todos os 17 funcionários do órgão federal reféns a noite toda. Eles ficaram em cárcere privado desde as dez horas da manhã. Às 19 horas os índios avançaram nas negociações e decidiram liberar as mulheres. Meia hora depois eles cederam mais e fizeram uma lista com oito nomes.Os tembés solicitaram a presença do procurador da República no Pará, Ubiratan Cazetta, para intermediar as negociações. Mas quem apareceu na Funai foi Felício Pontes. Os índios não reclamaram, embora chamassem Pontes de Cazzeta o tempo todo.Os reféns· Nome Órgão Função · Frederico M. de Oliveira Funai Adm. regional · Célia Valois Funai Adm. regional adjunta · Jorge Evandro Funai Chefe da Div. de Assistência · Constantino A.Tavares Funai Chefe do Serviço de Adm. · Francisco P. Tomaz Funai Indigenista · Emanuel Souza Patrício Funasa Cordenador estadual · Ademir Gudrin Funasa Ass.do Depart. de Saúde · Fátima Lima Funasa enfermeira Madeireiros invadem aldeiasAs duas aldeias dos tembés e kaapors, localizadas em terras do Pará e Maranhão, estão sendo invadidas por madeireiras. Nas terras dos kaapors, o desespero é maior porque os índios começam a ouvir o barulho das moto-serras durante a madrugada.Quando o assunto é saúde, os tembés não sabem mais a quem recorrer. Até 1999, a Funai recebia do governo federal somente R$ 100 mil para utilizar nas aldeias. Depois que o recurso passou a ser gerido pelada Funasa, de R$ 100 mil o valor saltou para R$ 1 milhão. O mais estranho é que o atendimento médico aos índios piorou, disse o procurador da República no Pará, Felício Pontes.A situação da Funai em Belém é de total penúria. O órgão do governo federal está sucateado. Segundo o administrador regional, Frederico Miranda, o ideal para manter o órgão funcionando são R$ 1,4 milhão por ano. Mas a previsão é que a União repasse apenas metade desse valor, que deverá ser aplicado em custeio do órgão, proteção e fiscalização das terras indígenas, que somam 3,5 milhões de hectares, onde estão localizadas 50 aldeias.Um outro problema de difícil solução enfrentado pelos índios Kaapor é que a população que está em áreas do Maranhão subordinadas à Funai de São Luís se deslocam de lá para reclamar na Funai de Belém. Isso porque eles não acreditam mais na sede maranhense do órgão. Fica uma situação complicada, pois nós não temos ingerência nessa área, explica o administrador regional da Funai, Frederico Miranda. Ele reconhece que essas terras vêm sendo atacadas por madeireiros e grileiros.

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