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Índios estão à frente de garimpo ilegal

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=56253
Autor: ANDREZZA TRAJANO
17 de Fev de 2009

A morte de um índio Yekuana, cometida por garimpeiros em janeiro deste ano, revelou não apenas a atividade intensa de garimpos ilegais em áreas indígenas, como também a possível participação de índios na atividade. Investigações da Polícia Federal apontaram empresários locais como financiadores dos garimpos. Eles usam as atividades legais para lavar o dinheiro obtido irregularmente.

No final do ano passado, um indígena foi preso por agentes da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança, na região do Contão, na terra indígena Raposa Serra do Sol, portando armas e combustível.

No mês passado, um grupo de garimpeiros matou a tiros o tuxaua da comunidade de São Luiz do Arame, em Alto Alegre, o índio Yekuana Luiz Vicente Carton, e feriu também a bala o filho dele, Ronildo Luiz Carton. O crime ocorreu após os indígenas se negaram a levá-los de canoa pelo rio Uraricoera até a comunidade Uaicás, no coração da reserva Yanomami.

Uma semana depois os garimpeiros se entregaram na Polícia Federal e alegaram legítima defesa. Segundo relatos de familiares de Carton, publicados no site Instituto Socioambiental (ISA), o tuxaua tinha envolvimento com a garimpagem. Ele auxiliava na navegação pela região, considerada de difícil acesso. Planejava encerrar a atividade ilegal e voltar para o convívio com os indígenas na reserva Yanomami, mas foi morto durante o "último trabalho".

"Luiz Vicente Carton trabalhava para os garimpeiros desde 1990. Guiava homens e máquinas, favorecendo a entrada de garimpeiros na terra Yanomami. Seus filhos Ronaldo e Ronildo trabalhavam com ele. (...) Ajudaram na construção da estrada vicinal que facilitou o acesso dos garimpeiros até o porto", diz o depoimento.

Conforme a publicação, os garimpeiros que mataram Carton pretendiam entrar para além da Cachoeira do Tucano, na reserva, em direção à comunidade de Uaicás. O tuxaua teria dito a eles que não poderiam avançar além de um posto da Fundação Nacional do Índio (Funai), uma vez que o tuxaua da comunidade, Eduardo Carlos da Silva, havia proibido a entrada de garimpeiros na região. A proibição gerou os crimes.

"Os garimpeiros pediram para meu pai deixá-los ao garimpo do Uraricoera, negociando em dinheiro. Ele concordou para levá-los até o local. Levaram dez dias para chegar até na região Uraricoera. Chegando no Uraricoera, ele disse para eles: 'Daqui vai ser mais três mil reais, em dinheiro'. Assim começou a discussão entre eles. Meu pai se negou a fazer o transporte. Ele disse para eles: 'Agora aqui vocês vão trabalhar, porque daqui não posso levar vocês'. O desejo dos garimpeiros era chegar a Mucuim, um local onde já garimparam antigamente, que fica acima da comunidade Uaicás", diz o texto do ISA.

Após dias de discussão, os garimpeiros cometeram os crimes contra os indígenas. Deram um tiro na testa de Luiz Carton, que morreu na hora, e no ombro do filho dele, Ronildo. Este último se fingiu de morto e conseguiu fugir dos garimpeiros pela mata.

OUTRA DENÚNCIA - Segundo fontes da Folha, existe um garimpo em atividade na região do Flexal, na terra indígena Raposa Serra do Sol. A garimpagem ilegal seria feita pelos próprios índios. O mais grave é que eles estariam utilizando uma balsa da Funai para a garimpagem.

PF - A Folha procurou a Polícia Federal para saber mais detalhes sobre a possível participação de índios na garimpagem ilegal em terras indígenas. A PF evitou comentar sobre o assunto, ainda que essa participação seja por emprego da força física ou por próprio interesse dos índios. Entretanto, ressaltou que continua combatendo os garimpos em terra indígena.
"O combate ao garimpo ilegal nunca foi interrompido desde a execução da Operação Selva Livre [em 1992, que diminuiu os garimpos existentes] e ocorre em diversas frentes. São alvos da Polícia Federal não apenas o garimpeiro que se embrenha na selva e trabalha na ponta, como também os empresários que financiam a atividade ilegal", disse em nota enviada à Redação.

"Não é possível retirar de uma só vez todos os garimpeiros da terra indígena, em razão da extensão da floresta amazônica e da complexidade de operações em região de selva. As atividades de combate aos garimpos ilegais, dentro e fora da terra indígena, serão intensificadas no ano de 2009, assim como o combate ao desmatamento e o tráfico de animais", ressaltou a PF.

FUNAI - A Folha também tentou ouvir o administrador da Fundação Nacional do Índio, Gonçalo Teixeira, sobre o assunto, inclusive, sobre a possível utilização da balsa da Funai pelos índios na atividade de garimpo. Foram feitos diversos contatos telefônicos para o celular de Gonçalo e para a Funai, mas até o fechamento desta edição, às 19h, não houve retorno.

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