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Índios e sem-terra fecham acordo

Diário de Cuiabá - Cuiabá - MT
28 de Mar de 2001

Numa reunião ontem à tarde ficou definido que a Fazenda Mirandópolis será dividida pelos dois grupos

Os índios terenas e os sem-terra entraram num acordo ontem à tarde para dividir a Fazenda Mirandópolis, em Juscimeira (município localizado 164 quilômetros ao sul de Cuiabá), afastando a possibilidade da rodovia BR-364 ser fechada, como vinha sendo ameaçado pelos agricultores. O acordo foi firmado em uma reunião que teve ainda a participação de um representante do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que irá desapropriar a área e, posteriormente, formalizará a cessão às partes.

As 350 famílias de sem-terra que estão acampadas na fazenda vão ficar com 60% da propriedade, que tem uma área total de 11,4 mil hectares. Os terenas ficarão com os 40% restantes. Ficou ainda acertado que o cacique Milton Rondon não vai mais processar o sem terra Olímpio Alves, como havia prometido.

A cessão de uma parte da Fazenda Mirandópolis para os terenas ficou acertada depois de três dias de paralisação da BR-163, na última semana, por parte dos índios, que cobraram do governo federal uma solução para o impasse que já vinha se arrastando há alguns anos.

O anúncio da cessão de parte da fazenda revoltou as 350 famílias de sem terra que já ocupavam o local há alguns meses. Houve troca de acusações. O sem terra Olímpio Alves classificou os terenas de ladrões e ameaçou interditar a BR-364 para garantir o direito de permanecer na área. O cacique Milton Rondon prometeu processar Olímpio Alves por calúnia e difamação, afirmando ainda que parte dos sem terra quer a área apenas para especulação, uma vez que nem todos os integrantes do movimento precisam da terra.

Por sua vez, a coordenação regional do Movimento dos Sem Terra (MST) em Rondonópolis afirmou que não reconhece as 350 famílias alojadas na Fazenda Mirandópolis como integrantes do Movimento.

MIGRAÇÃO - Os terenas de Rondonópolis vieram de Mato Grosso do Sul na década de 80 em decorrência da pequena quantidade de terra disponível no Estado vizinho. As primeiras 18 famílias da etnia saíram da Aldeia Buriti, em Dois Irmãos do Buriti (MS) e se instalaram na região sul de Mato Grosso atraídas principalmente por empregos no corte de cana das usinas de Sonora.

Sem terras definidas, eles ficaram por longo tempo em periferias de Rondonópolis e por várias vezes bloquearam a BR-364 na tentativa de sensibilizar as autoridades. No final do ano passado os terenas, mais uma vez, protagonizaram conflito por terra e foram retirados da Fazenda Campo Novo, propriedade onde estavam e que a Fundação Nacional do Índio (Funai) chegou a negociar a compra. Lá moravam cerca de 50 famílias de terenas, a maioria com relações de parentesco entre si.

Da Campo Novo, segundo o coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Sebastião Carlos Moreira, os índios foram levados para a fazenda Lagoa Azul do deputado federal do PSDB, Welington Fagundes, também em Rondonópolis. Parte da propriedade teria sido alugada pela Funai, até que a terra definitiva fosse encontrada.

Os terenas só estão nessa situação porque o Funai prevaricou. Esses índios não são originários de Mato Grosso, mas não estão aqui por opção e o procedimento tomado pelo órgão para lhes garantir um lugar não seguiu a lei, foi irregular. Eles têm o direito garantido e é obrigação do governo federal encontrar um lugar que lhes garanta a sobrevivência econômica e cultural, disse Moreira. O superintendente da Funai em Cuiabá, Ariovaldo José dos Santos, não foi encontrado no órgão para falar sobre o assunto.

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