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Índios disputam santuário de Cimbres

Diário de Pernambuco-PE
Autor: Marco Bahé
18 de Set de 2001

Xukurus lutam pela exploração do turismo religioso no local onde Nossa Senhora das Graças teria aparecido
Muito mais que simplesmente uma briga de índios, a disputa envolvendo lideranças da nação Xukuru envolve interesses pela exploração de um santuário religioso. Em bom português, significa uma espécie de turismo que movimenta milhões de reais todos os anos no maior País católico do mundo, o Brasil. Esse teria sido o mote principal que levou três aldeias Xukuru a decretar autonomia do restante de seu povo e fundar a tribo Xukuru de Cimbres. Também por causa disso, as lideranças da tribo original invadiram a área do santuário, sábado passado, numa tentativa de retomada da área.
Trata-se do santuário de Nossa Senhora das Graças, cuja aparição no ano de 1936 iniciou uma grande movimentação de peregrinos todos os anos. O santuário fica dentro da área que compõe a aldeia Guarda que, junto com a Vila de Cimbres e de Cajueiro, pediu autonomia no último dia 17 de agosto.
Acontece que os cerca de 300 hectares da aldeia Guarda, foram comprados por uma
instituição religiosa denominada Fundação Maria Mãe daGraça, fundada pelo frei José Maria Del Giudice, que está no local desde 1990. As terras foram adquiridas do engenheiro paraibano Antônio de Pádua Bezerra, posseiro. "Como a Igreja pode comprar um terreno que fica dentro da reserva indígena?", questiona o cacique Marcos Luidson. Ele mesmo responde: "É ilegal".
Luidson diz que há tempo ele pede à Diocese de Pesqueira que afaste o frei José da reserva.
"Desde a época do meu pai (O cacique Xicão, assassinado em 1995 quando lutava pela demarcação da reserva), o frei tenta comprar as terras dos Xukurus. Meu pai não gostava dele", reclama o atual cacique.
O frei José confirma a compra das terras, mas diz que o seu interesse é meramente religioso. "Estou trabalhando a serviço de um plano de Deus. Quando comecei a tentar comprar as terras, em 1990, ninguém se opunha", garante. Ele também admite que tinha planos de exploração turística da área. "O projeto era criar uma infra-estrutura mínima para receber os peregrinos. Os próprios índios seriam beneficiados, poisseria reservado uma área para eles comercializarem seus artesanatos", defende.
O fato é que cerca de 200 índios Xukurus invadiram a casa e a propriedade do frei José e garantem que não saem mais de lá. "Estamos retomando o que é nosso. Não vamos deixar que transforme nossa reserva numa espécie de Aparecida do Norte", rechaça Marcos Luidson, referindo-se ao maior centro de aglutinação de romeiros do País, em São Paulo.
Sobre os dissidentes, Luidson diz se tratar de gente interessada nos benefícios financeiros que o santuário traria. "O povo foi enganado para aderir ao abaixo-assinado que pedia a separação das aldeias. Vamos checar cada uma das assinaturas, porque desconfiamos que houve fraude", adianta. A nação Xukuru é composta por 23 aldeias (incluindo as três dissidentes), dentro da área de 27 mil hectares, em Pesqueira, no Agreste pernambucano, até o limite com a Paraíba. A Funai tem cadastrados 8.502 índios na reserva.

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