Índios denunciam aumento de garimpeiros

A Hutukara Associação Yanomami enviou carta a várias entidades governamentais e à imprensa denunciando novamente que aumentou a presença de garimpeiros em terras indígena. A denúncia foi feita para o Ministério da Justiça, Polícia Federal, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Ministério Público Federal e Ministério Público Estadual.

Na denúncia, os índios afirmam que faz mais de nove anos que os garimpeiros estão invadindo, estragando e poluindo os rios. A mesma denúncia havia sido feita em junho do ano passado. Os garimpeiros estariam atuando principalmente na região do Paapiú.

"Mais uma vez, nós, da Hutukara Associação Yanomami, fazemos documento para denunciar o aumento do garimpo na nossa terra. Mais uma vez nós recebemos documento dos Yanomami da região do Paapiú relatando a presença de garimpeiros armados que trabalham livremente em nossa terra e são abastecidos por voos constantes. Mais uma vez vamos esperar que a Funai e a Polícia Federal trabalhem direito e retirem os invasores da nossa terra antes que a violência e as doenças invadam a nossa terra novamente, como aconteceu no final da década de 80"disse.

O documento, que é assinado pelos diretores Dário Xiriana e Maurício Rocha, informou que a cada dia está mais preocupante porque o garimpo aumenta, mas a Funai e a Polícia Federal não estão combatendo a atividade ilegal. "Nós ouvimos dos nossos parentes que o garimpo está aumentando em várias regiões. Como a Polícia Federal não acredita em nós, estamos nos arriscando chegando mais perto do garimpo para levantar informações detalhadas do garimpo em um dos afluentes do rio Couto Magalhães, com fotos e mapas. Mas fazer isso foi muito perigoso, e recebemos ameaças de morte pelos garimpeiros. Com isso, também estamos muito preocupados", diz o líder no documento.

A entidade afirmou que espera que os índios não tenham que correr cada vez mais riscos para que as denúncias sobre o garimpo sejam ouvidas. "Queremos que a Funai e a Polícia Federal descubram quais são os aviões e as pistas utilizadas pelos garimpeiros. Queremos que prendam os empresários que sustentam o garimpo na nossa terra. Não adianta tentar prender os garimpeiros no mato porque eles sempre fogem. Este é mais um apelo nosso. Estamos cansados de ter que lutar contra o garimpo. Esperamos que as autoridades acreditem em nós e tomem providências imediatas. Retirem os garimpeiros de nossas terras", afirma.

No relato enviado pelos índios, eles informaram que os garimpeiros têm armas e máquinas na floresta e na margem do rio. "Nós vimos quatro garimpeiros, também vimos o carro para transportar a gasolina. O dono do carro é o chefe do garimpo e se chama João, que tem um revólver. Em outro local, tem seis garimpeiros, com barracões, radiofonia, um motor de gerador de luz, cachorros e armas. O terceiro garimpo é comandado por Louro, que está trabalhando aqui há 20 anos. Por isso, nós, Yanomami, estamos mandando este documento para vocês da Funai e da Polícia Federal lerem e retirarem imediatamente os garimpeiros antes que nós fiquemos doentes", relatam.

FUNAI - A Folha procurou a Funai, mas foi informada que o coordenador regional Gonçalo Teixeira estava em reunião. Até o fechamento da matéria ele não havia se pronunciado sobre o assunto. A Polícia Federal também foi procurada, mas assessoria de comunicação não atendeu a ligação.