Índios de Pesqueira vêm recebendo ameaça de morte de fazendeiros

O ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro, determinou ontem que policiais federais dêem proteção ao cacique dos índios Xukurus, Marcos Luidson de Araújo, 24 anos, e a mãe dele, Zenilda Maria de Araújo, 54. As duas lideranças vêm sofrendo ameaças de morte devido a disputa dos indígenas com fazendeiros pelas terras demarcadas pelo Governo federal, no município de Pesqueira, distante 216 quilômetros do Recife. A área pertencente aos Xukurus,
localizada na Serra da Ororubá, mede 27.555 hectares.
Os detalhes sobre a proteção serão discutidos hoje na Polícia Federal, em Brasília, com a participação do cacique. Marcos Xukuru, como ficou conhecido o filho do cacique Chicão, participou ontem da reunião do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, na qual comentou sobre as ameaças recebidas, bem como o processo de desapropriação das terras dos fazendeiros e as investigações sobre as mortes de lideranças indígenas nos últimos.
Chicão foi uma delas, assassinado com seis tiros em maio de 1998.
"A princípio pedi para mim e minha mãe, mas é possível que a proteção se estenda para outras lideranças", comentou. Isto se justificaria, segundo ele, devido ao clima de tensão existente em Pesqueira nos últimos meses. O cacique disse ainda que, atualmente, cerca de R$ 2
milhões estão disponíveis para indenização das benfeitorias das terras, mas que alguns deles resistem em deixar o local, contribuindo para a piora da situação. As terras dos Xukurus abrigam aproximadamente 9 mil índios em 20 aldeias.
Estes recursos, entretanto, foram considerados insuficientes e o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana sugeriu que a União libere verba extra, através de Medida Provisória, para as indenizações dos fazendeiros e regularização fundiária da terra indígena.
Além da proteção, o ministro determinou ao diretor da Polícia Federal, Armando Possa, que indique outro delegado para presidir os inquéritos das cinco mortes relacionados aos conflitos agrários em Pesqueira. O delegado Marcos Cotrim, lotado na Polícia Federal na Paraíba,
encabeçou as investigações até o semestre passado. Além do assassinato de Chicão, o novo delegado - que a pedido do conselho não deve ser de Pernambuco - avaliará a morte de Francisco de Assis Santana, o Chico Quelé. Os casos estão sendo acompanhados pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.