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Índios criaram zona urbana antes de Cabral

OESP, Vida, p. A24
29 de Ago de 2008

Índios criaram zona urbana antes de Cabral
Amazônia já não era região intocada, aponta estudo

Alexandre Gonçalves

Os antigos moradores da Amazônia, no período anterior à chegada dos europeus, tinham um estilo de vida "urbano". No lugar da imagem de uma floresta intocada por seus habitantes tradicionais, surge o cenário de uma região profundamente transformada pelos primeiros moradores.

É o que mostra o estudo publicado hoje na revista Science (www.sciencemag.org) por pesquisadores americanos da Universidade da Flórida e por brasileiros do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Eles estudaram sítios arqueológicos no Alto Xingu (MT). Estradas de até 5 quilômetros de comprimento e 20 metros de largura uniam agrupamentos que formavam uma comunidade de vilas independentes, mas que compartilhavam tecnologia, economia e organização sociopolítica.

Os agrupamentos maiores eram protegidos por valas e paliçadas e erguidos ao redor de uma praça central, onde ocorriam os principais eventos religiosos e sociais. Mais distantes desses centros existiam aldeias menores dedicadas à piscicultura e à agricultura. Construções elaboradas, como açudes, barragens e pontes, também eram comuns.

Com a chegada do colonizador europeu, as populações desapareceram e a floresta cobriu os sinais da civilização.

O trabalho é continuação de um estudo publicado pela mesma equipe, em 2003, também na Science. Na época, já se apontava a ocorrência de sociedades complexas na Amazônia. Desta vez, o trabalho foi ampliado com o conceito de "urbanismo pré-colombiano" para designar os agrupamentos.

O antropólogo Michael Heckenberger, principal autor da pesquisa, afirma que o adjetivo "urbano" não costuma ser utilizado para estruturas pulverizadas espacialmente, como são os agrupamentos do Alto Xingu, mas justifica que "o planejamento da utilização do solo e a transformação do local não era menos notável ou sofisticada do que em outras sociedades urbanas antigas".

Para o arqueólogo Eduardo Neves, da Universidade de São Paulo, o trabalho ajuda a qualificar as sociedades complexas pré-colombianas amazônicas. "Antes não se entendia como elas eram estruturadas, o que muda a partir do modelo de urbanismo."

A pesquisadora Denise Schaan, da Universidade Federal do Pará (UFPA), afirma que as comunidades indígenas da Amazônia não eram mais "atrasadas" do que os incas, por exemplo. Apenas utilizavam matérias-primas (terra ou madeira) que tornavam suas obras perecíveis. Ela afirma que as novas descobertas demonstram a possibilidade de um equilíbrio positivo entre o homem e o meio ambiente.
Colaborou Cristina Amorim

OESP, 29/08/2008, Vida, p. A24

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