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Índios concluem encontro denunciando violência de brancos em aldeias de Feijó

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Tião Maia
18 de Abr de 2002

Lideranças das comunidades indígenas do Acre e do Sul do Amazonas concluem hoje, em Rio Branco, o III de Culturas Indígenas com a divulgação de um manifesto denunciando atos de violência e pedindo a demarcação de pelo menos 14 áreas na região. O documento é assinado pela União das Nações Indígenas do Acre e do Sul do Amazonas (UNI) e é dirigido ao presidente da República, ao ministro da Justiça, ao presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), ao procurador da República no Acre e ao governador do Estado. O manifesto defende a demarcação de terras indígenas tanto no Acre como no Sul do Amazonas. O encontro das lideranças indígenas tem o apoio do Governo do Estado. Em Feijó, na localidade de Curralinho, prepostos de seringalistas que não querem a demarcação de terras para os índios, estariam causando terror nas aldeias às margens do rio Envira, inclusive com seqüestro de bens e equipamentos.
De acordo com o manifesto, as lideranças indígenas exigem do Governo Federal o reconhecimento e a imediata demarcação das terras indígenas Kaxinawá do Seringal Curralinho, Nawa do Igarapé Novo Recreio, Jaminawa do Rio Caeté, Jamináwa do Kaiapucá, Jaminawa do Guajará, Arara/Apolima do Alto Juruá, Jamamadi do Lurdes, Mancineri do Seringal Guanabara, Jamináwa da Colocação São Paulino, Jamamadi/Apurinão do Ikiriema, Apurinã do Goiaba, Jamamadi/Apurinã do Monte e Apurinã do Valparíso. "Lembramos que essas terras sempre foram consideradas de uso imemorial. A existência de conflitos e atitudes hostis contra povos indígenas que lutam pelo reconhecimento de seus territórios não são recentes", diz o manifesto. "A história protagonizada pelos povos indígenas da região é uma história marcada por conflitos e violência".
O manifesto também ratifica que "a região foi ocupada pelas frentes extrativistas no final do século XX, causando toda a sorte de males: a expropriação de povos e populações indígenas em seus territórios ancestrais, doenças, rapto de mulheres e crianças, extermínio, desestruturação cultural, escravização e integração no trabalho compulsório da integração da borracha". De acordo com as lideranças indígenas, por causa das invasões em seus territórios, "acometidos por endemias ou vítimas de ações belicosas, sem proteção oficial, muitos pereceram. Alguns grupos remanescentes continuaram lutando e ocupando parte de seus territórios tradicionais. Outros, reduzidos e dispersos, foram forçados a conviver com seringalistas e seringueiros, mas todos resistiram, de forma ativa e passiva, ao aniquilamento total", diz o manifesto.
O documento também faz uma denúncia: "Recentemente, a população regional (homem branco) constituída de posseiros, colonos, fazendeiros e ex-seringalistas, diante das reivindicações dos povos indígenas pela conclusão de processos fundiários que se arrastam por longo anos, voltaram a praticar hostilidades, procurando negar e evitar a demarcação de novas terras indígenas". Ainda de acordo com o manifesto, "em todos os locais considerados Terra Indígena, retornaram as atitudes discriminatórias, as práticas de violência, tortura e morte. Contra este quadro de relações adversas, insistimos na identificação, delimitação e demarcação das Terras Indígenas, como forma de resgatar uma dívida histórica da sociedade e do povo brasileiro".
Um dos pontos de violência contra os índios, de acordo com a denúncia, é o município de Feijó, onde a população indígena Kaxinawá, que luta pela identificação e delimitação da terra indígena Nukûmae, no Seringal Curralinho, vem sendo vítima de agressões. Prepostos de seringalistas da região ocuparam as margens do rio Envira, onde está a Aldeia Grota, e passaram a causar terror entre os índios, com roubo de equipamentos, de pertences pessoas. Tudo isso para impedir e tumultuar todo o processo de estudos da área determinado pelo Governo Federal.

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