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Índios chilenos rejeitam apoio do Papa em negociação de paz

O Globo, Sociedade, p.23
18 de Jan de 2018

Papa Francisco dedica missa às vítimas da ditadura de Pinochet
Aos povos indígenas, o Pontífice pediu o fim da violência na luta por reconhecimento

TEMUCO, Chile - Um dia após se desculpar pelos abusos sexuais cometidos por padres católicos, o Papa Francisco tocou em dois temas sensíveis durante a "Missa pela integração dos povos", rezada nesta quarta-feira na base aérea de Maquehue de Temuco, no sul do Chile. A instalação militar está numa região conflituosa reivindicada pela tribo Mapuche, e serviu de local de detenção durante a ditadura de Augusto Pinochet.

Oferecemos essa celebração a todos os que sofreram e morreram e a todos que carregam nos ombros todos os dias o peso de tantas injustiças - disse o Pontífice, que pediu um momento de silêncio pela "dor e tanta injustiça", em referência às vítimas da ditadura militar.

Sobre a questão indígena, Francisco pediu o abandono da violência na luta pelo reconhecimentos dos povos. Nos últimos dias, um policial ficou ferido, três templos católicos e um evangélico foram destruídos e três helicópteros de empresas florestais foram vandalizados na região. Segundo as autoridades, panfletos exigindo a restituição de terras aos Mapuche foram deixados nas igrejas destruídas.

É imprescindível reconhecer que uma cultura de reconhecimento mútuo não pode se construir na base da violência e destruição que acaba cobrando vidas humanas - afirmou Francisco. - Não se pode pedir reconhecimento aniquilando o outro, porque isso apenas desperta maior violência e divisão.

O Papa escolheu Temuco, a 800 quilômetros da capital Santiago, para ter contato direto com os Mapuche, a etnia indígena mais importante do Chile. Eles reivindicam a restituição do território ancestral, que está hoje em mãos privadas, e denunciam abusos e discriminação.

Antes da chegada dos conquistadores espanhóis no Chile, em 1541, os Mapuche eram donos das terras que se estendiam por 500 quilômetros ao sul do rio Biobío. Após sucessivos processos, os Mapuche, que representam 7% da população chilena, foram forçados a viver em pouco mais de 5% de território original.

A unidade, "se quer ser construída a partir do reconhecimento e da solidariedade, não pode aceitar qualquer meio para chegar ao fim", pontuou o Papa, alertando que a violência, "mais que impulsionar os processos de unidade e reconciliação, termina os ameaçando". Mas muitos rejeitam o papel do Papa como mediador.

O conflito na região tem se escalado nos últimos anos, com grupos Mapuche exigindo de madeireiros a restituição de territórios ancestrais e, do Estado, avanços na transferência de terras. Existem no Chile cerca de 600 mil Mapuche, concentrados em Araucanía e Biobío, regiões pobres no sul do país, que durante séculos foram o limite do império espanhol na América do Sul.

Guerreiros, os Mapuche não sucumbiram aos conquistadores e foram derrotados apenas pelo exército chileno, no fim do século XIX. Desde então perderam seu território e mantiveram relações tensas com o Estado.

A nosso juízo a visita não representa benefício algum - comentou Daniel Ancavil, líder do conselho Mapuche Maquehue, criticando o destacamento de 4 mil policiais para a segurança do Pontífice. - Antes vinham com a Bíblia e a espada; agora, com a Bíblia e o fuzil. Isso é um acampamento de guerra.

Depois da liturgia, o pontífice deve se reunir com um grupo de indígenas, cujas identidades ainda não foram reveladas pela organização do encontro. Na sequência, volta para Santiago, onde se reunirá com jovens e visitará a Universidade Católica da capital.

O Globo, 18/01/2019, Sociedade, p.23

https://oglobo.globo.com/sociedade/religiao/papa-francisco-dedica-missa…

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