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Índios capixabas reclamam de desprezo de candidatos

Folha de S.Paulo-São Paulo-SP
Autor: PAULO CABRAL
20 de Ago de 2002

Cento e oitenta famílias de índios Tupiniquim vivem na Aldeia de Caieras Velha, na cidade de Aracruz, a menos de 60 quilômetros de Vitória, capital do Espirito Santo.

Mas, apesar do interesse que muitos índios mostraram na eleições quando fui até lá, a comunidade reclamou que ainda está esquecida não só pelos políticos que estão no poder, mas também pelos candidatos em plena campanha eleitoral.

"A comunidade quer participar destas eleições, mas até agora nenhum candidato veio à aldeia. Ninguém nos procurou para conversar, e os índios não sabem em quem votar", disse o cacique José Sizenando.

Nas últimas eleições municipais, o cacique se candidatou a vereador da cidade de Aracruz e recebeu 507 votos. Com mais sete votos, teria sido eleito o primeiro vereador índio da cidade que abriga três aldeias Tupiniquim e outras três Guarani.

Candidatos

"Se tivéssemos um índio nesta eleição, seria muito melhor, porque o branco não conhece o sofrimento do indio. O branco só quer o nosso voto", reclamou a tupiniquim Helena Coutinho, de 62 anos.

Mas, apesar disso, a índia diz que a comunidade tem que participar da eleição. "A maioria dos índios hoje aqui vota. E tem que votar para colocar lá uma pessoa que se preocupe com os problemas dos índios."

O pajé Alexandre Sizenando, de 87 anos, é o índio que há mais tempo mora na comunidade de Caieras Velha. Sizenando também já foi cacique e é pai do atual líder e quase vereador em 2000, José Sizenando.

Mas Alexandre nunca votou "nas eleições dos brancos", embora não perca as reuniões que escolhem os caciques das aldeias. "Eu não sei nem escrever meu nome. De que serve o meu voto?", justifica.

Mas, entre os índios mais jovens da comunidade, o interesse pela política cresce.

Casamentos

Na aldeia de Caiera Velha, os casamentos entre índios e brancos não são bem vistos. "O cacique disse que não pode casar índio com branco", me contou Helena Coutinho.

Mais tarde o cacique Sizenando confirmou: "Tem um regimento na aldeia de que índio que casar com branco tem de viver fora da aldeia. Acho que é importante para manter a aldeia", disse.

Mas a regra não é seguida, na prática, com muito rigor. O próprio pai do cacique é casado com a branca Maria, sua segunda mulher.

E Maria não gosta da regra do filho de seu marido. "Quem nasce no rio é peixe, não é? Eu nasci nestas terras, então eu sou índia."

Nova Aldeia

Há dois anos foi criada na foz do rio Pireque-Açu uma nova aldeida de índios Guarani. Com sete famílias, a comunidade escolheu Caraí - Pedro, para os brancos - para ser o cacique.

Em casa Caraí fala Tupi com seus quatro filhos e a mulher. Mas as crianças estão aprendendo o português.

"É importante o índio preservar sua língua, mas falar o português para se comunicar com o brancos. O índio tem de lutar pela sua comunidade porque os brancos não fazem nada."

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