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Índios buscam independência financeira

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Juracy Xangai
21 de Jan de 2004

UNI encaminhou as reivindicações das comunidades indígenas para à superintendência da Funai e Ibama

Os índios acreanos estão dando seu grito de independência realizando projetos e treinamentos a fim de conquistar a auto-suficiência produtiva e financeira de suas comunidades.

Os índios Kaxarari exigem o direito de explorar as pedreiras localizadas em suas terras, as quais chegaram a ser exploradas clandestinamente durante o asfaltamento do trecho da BR-364 que liga Rio Branco a Porto Velho, sem que eles fossem beneficiados quando sua reserva foi invadida por uma empresa construtora. Também querem o direito de explorar toda a madeira das áreas que derrubam para fazer roçado, a fim de aproveitá-las na construção de moradias para os pouco mais de 200 remanescentes do povo Huni, como se autodenominam.

A reivindicação deles foi encaminhada pela União dos Povos Indígenas (UNI) para a Funai em Brasília, a qual já respondeu que não há possibilidade legal para a exploração de recursos naturais, que não possam ser manejados, em áreas indígenas. Quanto ao pedido de autorização para aproveitar sua madeira serrada, continua sendo examinada pela Funai.

"Esses pedidos feitos pelos Kaxararis são muito polêmicos porque a exploração de minério em terras indígenas está dependendo de uma lei que regulamente esses trabalhos e a pedra é um minério. Já a da madeira pode ser feita com manejo florestal, nossa opinião é de que como a proposta é de usarem essa madeira para construir casas na própria comunidade eles podem serrar as toras e aproveitar como bem entenderem". Afirma Francisco Avelino Batista Apurinã, o "Chico Preto", atual coordenador da União das Nações Indígenas no Acre (UNI).

Segundo ele, representantes da UNI, Ibama, Funai e organizações ambientais deverão visitar a comunidade para discutir com ela esses problemas. "Estamos aguardando os Kaxarari marcarem o dia dessa reunião para irmos lá".

Produzir é preciso

Enquanto a questão dos Kaxarari vai sendo discutida, outros projetos para o desenvolvimento da produção de artesanatos em sementes, cocos, cerâmica, tecelagem, fibras vegetais, bem como na produção de alimentos e essências florestais, vem sendo debatidos pelos representantes dos índios como forma de criar ocupação para sua gente e gerar renda a fim de que as comunidades deixem de ser tão dependentes da Funai e de outras entidades.

Carlos Brandão Shanenawa é o coordenador do Projeto Demonstrativo dos Povos Indígenas (PDPI), programa que é bancado financeiramente pelo PPG-7 através do Ministério do Meio Ambiente. "Este programa visa desenvolver atividades alternativas que gerem renda preservando a cultura e o meio ambiente em que vivem as comunidades nativas. É uma reivindicação antiga que veio para atender, especificamente, as comunidades indígenas e fortalecer suas organizações".

Durante reunião realizada no final do ano passado, em Brasília, com representantes dos povos indígenas dos nove Estados amazônicos, ficou definida a liberação de R$ 18 milhões do PPG-7 para o desenvolvimento de projetos em comunidades indígenas ao longo de 2004.

Agora estão sendo liberados R$ 230 mil para a formação de agentes Ambientais Indígenas através da UNI. As quatro aldeias de índios Kaxinawás do Caucho (Huni Kuin) receberão R$ 36 mil para melhorar sua criação de galinhas caipiras. Outros R$ 230 mil serão aplicados na realização de filmes, textos e materiais de educação indígena com a finalidade principal de preservar a língua, a cultura e técnicas de sobrevivência destes povos.

"Temos projeto de fortalecer as organizações indígenas. Para isso vamos realizar parcerias com secretarias de Estado e prefeituras a fim de aumentar a produção de alimentos, artesanatos e outros produtos que queremos colocar no mercado", explica Carlos Shanenawa.

"Cada proposta feita por um órgão, entidade ou mesmo lideranças indígenas está sendo discutida com as comunidades e só serão levadas adiante se elas se comprometerem a trabalhar pelo seu sucesso. Antigamente a Funai criava um projeto e implantava na aldeia sem perguntar se os índios concordavam, por isso nada deu certo. As pessoas precisam ser respeitadas para que demonstrem respeito".

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