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Índios brasileiros são aliciados pelas Farc

O Globo-Rio de Janeiro-RJ
Autor: Jailton de Carvalho
29 de Abr de 2003

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, inaugura hoje um posto da Polícia Federal (PF) em Melo Franco, aldeia com 60 índios tucanos situada a 20 quilômetros de um dos acampamentos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Com a instalação da base, a 10 na faixa de fronteira com a Colômbia, a PF espera inibir a atuação das Farc que, segundo o coordenador da Operação Cobra, delegado Mauro Spósito, estariam aliciando e, em alguns casos, até seqüestrando índios tucanos e macus no território brasileiro. Os índios seriam usados como soldados na guerrilha.

Segundo Spósito, a PF não fará trabalho de convencimento ideológico dos índios para que não sejam cooptados pela guerrilha. A proposta, segundo ele, é estabelecer as bases do estado brasileiro na região, uma das áreas mais remotas do país, e deixar que os índios continuem se movimentando livremente.

- Com o posto não vamos fazer lavagem cerebral em ninguém, mas marcar presença e deixar que os índios façam suas escolhas - disse Spósito, pouco antes da chegada de Bastos no aeroporto de Tabatinga.

Índios seriam atraídos por dinheiro ou seqüestrados

O delegado, um dos maiores especialistas da PF em assuntos da Amazônia, disse que não há informações precisas sobre o número de índios que teriam sido levados para a guerrilha. Mas, segundo ele, são freqüentes os relatos, entre tucanos e macus, sobre o desaparecimento de índios arrastados pelos guerrilheiros. Tucanos e macus estariam sendo atraídos por ofertas de dinheiro ou retirados à força do território brasileiro para, depois de uma longa convivência com os guerrilheiros, abraçarem a causa das Farc.

Perguntado sobre os supostos ataques das Farc aos índios, Bastos disse que estava chegando na região para conhecer detalhes da Operação Cobra e que só depois falaria sobre o caso. O ministro evitou comentar o suposto caráter terrorista das Farc. Segundo ele, esse é um problema interno da Colômbia e o governo brasileiro não fechou questão sobre o tema.

O comandante da 16 Brigada de Infantaria de Selva, o general-de-brigada Joaquim Silva e Luna, disse que não há dúvida do interesse das Farc nos índios brasileiros.

- Esse tipo de aliciamento os guerrilheiros das Farc tentam com qualquer um - disse.

O general confirmou também que, no dia 26 de fevereiro do ano passado, patrulheiros do Exército brasileiro mataram quatro guerrilheiros das Farc que estavam trafegando numa lancha no Rio Japurá. Segundo ele, os guerrilheiros receberam ordens para depor as armas, mas não quiseram se render e, na troca de tiros, foram mortos pelos militares brasileiros. Os corpos dos guerrilheiros estão desaparecidos. O caso chegou a ser noticiado, mas até então prevalecia os rumores de que os mortos eram traficantes e não integrantes das Farc.

- Eram guerrilheiros sim. Estavam até com uniforme camuflado - disse o general.

O ministro da Justiça chegou no fim da manhã de ontem a Tabatinga para uma visita de dois dias à região da fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru. O ministro disse que ia se inteirar dos detalhes operacionais da Operação Cobra para, em breve, estender a experiência para as fronteiras do Sul e do Sudeste do país.

Cocaína apreendida em São Paulo seria das Farc

Em São Paulo, um esquema envolvendo tráfico de armas e de drogas entre traficantes brasileiros com guerrilheiros das Farc foi descoberto com a apreensão de 400 quilos de cocaína e a prisão de quatro traficantes. Foi a maior apreensão de drogas em São Paulo este ano.

De acordo com o delegado Ivaney Cayres de Sousa, os traficantes de São Paulo mandavam armas para a Colômbia. Em troca, recebiam cocaína.

- Descobrimos que o Paraguai serve de rota tanto para a entrada de drogas no país quanto para a saída de armas - disse o delegado.

A cocaína encomendada pelos traficantes saía da Colômbia e ia até a cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai. De lá, seguia de avião ou de caminhão para o Brasil.

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