24 Horas News
12 de Fev de 2007
A situação mais grave enfrentada pelo mestre Mário Bordignon é em Jarudore, distrito do município de Poxoréo, no Sudeste de Mato Grosso. Lá os índios sofreram um processo violento de invasão de suas terras, até que 1980 não havia mais nenhum no local. Hoje a área se transformou em uma pequena vila com cerca de 3.000 pessoas. Em volta, algumas pequenas fazendas, mas também latifúndios formados ao longo dos anos, graças à invasão das terras indígenas. Era um total de 6.000 hectares, demarcados em 1912 pelo Marechal Rondon, tendo os morros de mesa como marcos naturais.
"Esses marcos começaram a ser desrespeitados pelo próprio governo de Mato Grosso, que, em 1945, iniciou a venda das terras dos Bororo para assentar colonos, vindos sobretudo do Nordeste. Foram loteados quase 2.000 hectares, restando 4.116 para os índios" - relata a revista "Sina", de circulação mensal. A colonização, acrescenta a matéria assinada pelo jornalista João Negrão, apressou a invasão da área. "Outros colonos apareceram e, junto com a ganância dos já instalados, mais terras foram sendo tomadas. Além da violência, os invasores corrompiam os índios com cachaça. A descoberta do garimpo na região acabou de vez com a reserva Bororo" - explica.
Desde então, o movimento pelo retorno dos índios a suas terras continuou. Inúmeras viagens a Brasília, ações na Justiça, assembléias. Quase tudo em vão. A Funai sempre engavetava tudo sobre Jarudore. Até que, em julho do ano passado, o Ministério Público Federal, por meio do procurador da República Mário Lúcio Avelar, entrou com uma ação para fazer a reintegração de posse da área e corrigir mais de seis décadas de injustiça. Diante dessa ação, um grupo Bororo formado por cerca de 300 pessoas, lideradas pela cacica, Maria Aparecida Tore Ekureudo, retornou para parte da área semanas depois.
Começou aí o alvoroço. Os invasores se mobilizaram temendo a perda das terras. Surgiram boatos e ameaças de morte. Até que, na véspera do Natal, o genro da cacique, João Osmar Lopes, sofre um atentado e desaparece. Sua caminhonete, com a qual trabalhava transportando leite, foi totalmente queimada. João Gaúcho, como é conhecido, foi reencontrado três dias depois com marcas de tortura e sem consciência.
O atentado teve claro propósito de intimidar os índios. Até hoje suas circunstâncias não estão totalmente esclarecidas. Alguns fazendeiros apontados como suspeitos do crime se apressaram a dizer que não tinham nada a ver com o atentado. Mas a morosidade da Polícia e da Justiça estimula a impunidade e dá mais coragem aos criminosos. Desta vez, o alvo é o mestre Mário. No dia 27 de dezembro, quando ainda não havia notícias do paradeiro de João Gaúcho, o religioso transitava pela avenida Fernando Corrêa e percebeu que estava sendo seguido. No semáforo próximo ao 9o BEC (Batalhão de Engenharia e Construção, do Exército) um veículo encostou bem do lado esquerdo dele. O carona chamou sua atenção e apontou o dedo, puxando-o em seguida simulando o disparo de um gatilho. Antes que ele esboçasse qualquer reação, o carro saiu em disparada.Extraído da Revista "Sina"
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