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Índios aguardam solução para casos graves de saúde

O Liberal-Belém-PA
29 de Abr de 2003

Nem terminou ainda o mês de abril, em cujo dia 19 se comemora o Dia do Índio, e o menino Edmilson Wai-wai, de 1,8 ano, que nasceu sem ânus e defeca com dor por uma abertura na barriga, está com sua mãe Marta Wai-wai na Casa do Índio, em Icoaraci, aguardando uma solução para o caso. Marta disse que eles estão no local há um mês, e Edmilson está em tratamento, inclusive, hoje ela vai a um hospital para ver se é definida a data da cirurgia.

Semelhante ao pequeno Edmilson, existem outros 40 indígenas na Casa esperando por um melhor atendimento, como eles mesmos informam. A Casa do Índio é uma unidade da Fundação Nacional do Índio (Funai), mas o tratamento médico está a cargo da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Ao saber ontem da falta de atendimento aos seus pares na Casa do Índio, Jacinto Tembé, 41 anos, membro do Conselho Local da Saúde Indígena da Comunidade Tembé, resolveu procurar a Imprensa para denunciar o caso, objetivando melhorias no local.

"Aqui estão índios doentes de várias aldeias, como os Wai-wai (perto do Rio Trombetas), Tembés (na fronteira do Pará com o Maranhão), Mundurukus (no Sul do Pará) e Arara (no Xingu, Altamira). Eles têm vários tipos de doença", afirmou Jacinto. Ele disse que tem índios que passam muito tempo na Casa quando deveriam ter sido medicados para regressarem a suas aldeias.

A índia Adriana Tembé, sogra de Jacinto Tembé, morreu no dia 16, em um hospital de Belém. "Segundo o atestado de óbito, foi de tuberculose", afirmou Jacinto. Ele observou, entretanto, que a índia estava fraca e teve convulsão. Adriana chegou a ir por duas vezes ao posto da Funasa em Paragominas. "Em geral, os médicos só olham para a pessoa (índio) nas consultas", afirmou Jacinto.

O irmão dele, Jailton Tembém, 22 anos, está há um mês na Casa. Ele sente dor no peito, e desde dezembro aguarda por uma solução para seu caso. Em fevereiro ele veio e se consultou no Hospital de Clínicas, foi receitado um medicamento, mas não recebeu nenhum remédio e foi mandado retornar para sua aldeia. Ontem, ele era um dos reclamantes na Casa do Índio. "Eu voltei para Belém e ao mesmo médico com o mesmo problema", observou. Agora, Jailton aguarda por uma consulta no dia 8 de maio.

Guanandá Guajajara, 64 anos, da tribo Guajajara no Maranhão, perdeu a perna esquerda há seis meses e, agora, aguarda por uma prótese na Casa do Índio. Ao lado dele está a cama de Guajanã Guajajara, 67 anos, que tem o pé esquerdo inflamado em virtude de um espinho, desde dezembro do ano passado. Ele foi para posto da Funasa em Marabá, onde foi internado. Depois, veio para a Santa Casa, em Belém, onde ficou por três meses, retornando, ficando na Casa do Índio, mas retornou a Marabá e, agora, há um mês, voltou para a Casa em Icoaraci.

Proposta - O presidente da Funasa, Geovani Queiroz, destacou ontem que não é verdade que os índios não recebem bom atendimento na Casa do Índio. Ele disse que os indígenas vêm para Belém sem encaminhamento médico, não passando pelos pólos da Funasa no interior do Estado. Os índios Tembés são os que mais reclamam, como frisou Giovani, afirmando que prefeituras são conveniadas com a Funasa para garantir o atendimento médico aos indígenas. Em Paragominas, existe um convênio entre a Fundação e a Prefeitura para esse atendimento, e os casos mais graves são encaminhados para Belém.

No caso da índia Adriana Tembé, Giovani Queiroz disse que os indígenas negaram-se que ela recebesse atendimento em Paragominas, com o caso vindo para Belém, onde a senhora veio a falecer. Em geral, como disse Queiroz, que se encontra há pouco tempo na função, os indígenas doentes vêm acompanhados por familiares, que superlotam a Casa do Índio. "Existe uma proposta desde o ano passado para que se organize um espaço específico para a recuperação médica dos índios", afirmou o presidente da Funasa. Ele disse que esse assunto será debatido com as comunidades indígenas e com a Funai.

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