VOLTAR

Índios acreanos: nada a comemorar

O Rio Branco-Rio Branco-AC
Autor: Concita Cardoso
20 de Abr de 2005

Os índios acreanos afirmaram ontem, no dia dedicado a eles, não terem nada o que comemorar. Citam os conflitos de terra e a violência contra os índios como os principais problemas enfrentados por eles no Estado do Acre.

Segundo o presidente do Conselho Indigenista Missionário do Acre (Cimi), Charles Falcão, o movimento, a luta e as conquistas indígenas não avançaram nos últimos anos. Reconhece pequenos avanços no Estado do Acre, mas afirma que muito ainda precisa ser feito para resolver os conflitos nas terras indígenas.

"Hoje, o que se percebe é que os governos federal e estadual não se preocupam em discutir os problemas indígenas, eles preferem ficar nas comemorações, fazendo de conta que está tudo bem; enquanto a realidade é outra", enfatiza Falcão.

Em sua avaliação, a Secretaria dos Povos da Floresta não tem buscado "consenso com as comunidades indígenas para saber sobre suas necessidades. Ele diz ainda que é de suma importância denunciar o que vem acontecendo com os povos indígenas no Estado.

"A sociedade precisa também ser chamada para a discussão. Se faz urgente a promoção de um processo que avalie esta questão. As pessoas precisam saber que a violência contra os povos indígenas tem se agravado em decorrência dos conflitos de terra. Isto vem acontecendo devido aos interesses de madeireiros, fazendeiros e grileiros serem contrariados", observa.

Denúncia de violência física sofrida pelos índios também foi citada. Durante o lançamento do Livro da Pastoral da Terra ocorrido na Diocese de Rio Branco, os índios presentes denunciaram alguns casos de agressão e morte não solucionados pela Justiça acreana, um deles, se trata de dois estupros sofridos por índias em Rio Branco e em Porto Acre.

Os irmãos Jair e Tóri Manchineri enfatizaram estar sensibilizados com a situação dos Manchineri da terra indígena Guanabara. O problema com a demarcação destas terras existe desde 2004.

"Pensávamos que, ao nomear uma comissão formada por representantes de órgãos como Ibama, Incra, Interacre e outros, o governo estaria tentando resolver o problema. Mas para nossa decepção, esta comissão foi formada com o intuito de reduzir as terras indígenas alegando que é muita terra para pouco índio, o que é um absurdo, quando constatamos que no Brasil existe um grande número de latifúndios", afirmou Tóia Manchineri.

Os Manchineri não compareceram às festividades promovidas pela Secretaria dos Povos Indígenas em comemoração ao Dia do Índio, realizado ontem na Casa dos Povos da Floresta. Na oportunidade, foi lançado um livro sobre a história de sua gente, dos Kaxinawa, Jaminawa e Katukina. O evento contou com a presença de um representante do Ministério da Cultura, que veio ao Acre assinar um protocolo de intenções com o governo do Estado e prefeituras municipais.

"Neste momento não dá para ficar do lado de um governo que não está fazendo nada pela causa indígena em nosso Estado. O governador só quer a nossa presença em datas festivas como se tudo estivesse a mil maravilhas. No decorrer do ano, não nos procura para saber sobre nossos problemas e o que gostaríamos que fosse feito para melhorar a qualidade de vida dos povos indígenas", ressaltou Jair Manchineri

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.