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Índio de pele vermelha e preta

O Globo, Esportes, p. 26
26 de Jun de 2007

Índio de pele vermelha e preta
Paixão pelo Fla na terra que amanhã recebe tocha do Pan

Pedro Motta Gueiros
Enviado especial
Para se chegar ao salto do Utiariti, uma cachoeira de 100 metros de altura, é preciso pedir autorização aos donos da terra. Nos quase 90km de estrada até lá, a paisagem plana e infinita do agronegócio é um mundo novo aos olhos de quem se acostumou com mares, morros e gente na paisagem. A parabólica na entrada da aldeia faz a ponte entre as águas do centro-oeste e o Rio de Janeiro. Sentado em frente de casa, Joacir Zuneizoke, 15 anos, não se pinta de vermelho e preto apenas nos rituais dos Parecis. Sua pele é rubro-negra, como a pulseira, a camisa, o copo e agenda que sempre carrega consigo. Apesar da distância em que se encontra da Gávea, o índio tem o Flamengo bem perto do coração.

Gosto do Obina, estava jogando bem, pena que se machucou. Também gosto do Renato, do Juan e do Leoanardo Moura.

Com a idade de quem não viu o melhor futebol rubro-negro, basta a mística para seduzi-lo. Joacir admira a beleza da festa no Maracanã e o canto das arquibancadas.

- Uma vez Flamengo, sempre Flamengo...
- canta, com pronúncia tímida mas correta dos verso do hino, que conhece até o fim. - É o mais bonito de todos.

O Maracanã está ligado aos índios a começar pela ave, uma pequena arara, que deu nome ao rio que batiza o estádio. De dentro dele, avistam-se as antenas do Sumaré, que fazem a paixão rubro-negra chegar até a parabólica da aldeia na frente dos rivais de outros estados. Na mesma onda da antiga Rádio Nacional, que fazia a ex-capital federal ecoar por todo o país, em Mato Grosso, a TV local transmite os jogos dos times do Rio.

O futebol profissional é um desejo acalentado pelos meninos das aldeias. Organizador dos I Jogos Indígenas do Mato Grosso, que serão abertos amanhã, junto com a passagem na tocha do Pan, Carlos Terena sabe que o caminho é difícil.

Os clubes grandes já não têm a mesma identidade de antes - critica.

Mas ainda conservam o poder de sedução e fãs por todo o país. Até aonde não parece haver contato com o futebol. No caminho das cachoeiras, o urubu ainda volta alto. Na natureza, na aldeia ou no futebol, os símbolos rubro-negros estão por toda a parte.

O Globo, 26/06/2007, Esportes, p. 26

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