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Índio baleado depõe na Polícia Federal

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
26 de Out de 2004

O indígena João Moreira Hermínio, 36, acompanhado de mais cinco indígenas da comunidade do Guariba, região do Município de Normandia, e de um dos procuradores da Fundação Nacional do Índio (Funai) esteve na tarde de ontem depondo na Polícia Federal. Eles foram prestar depoimento sobre o tiro que acertou a perna direita de Hermínio, no último dia 16.
O tuxaua Abraim Joaquim Guariba estava junto com os indígenas e informou que a situação está tensa no local, depois do ocorrido. "Queremos uma indenização, pois a gente não sabe se ele [Hermínio] vai ficar bom ou não. Até agora ele não está conseguindo andar direito e ninguém sabe ainda se o tiro atingiu algum nervo importante da perna dele", disse.
Hermínio foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) a fim de fazer exame de sanidade mental e corpo de delito. As únicas declarações foram feitas pelo tuxaua. Pois os índios preferiram se manifestar após os depoimentos.
VERSÕES - Índios e o proprietário da fazenda, o advogado Illo Augusto, têm versões diferentes sobre o caso, que serão apuradas pela Polícia Federal. Tudo aconteceu no último dia 16, quando o índio Hermínio foi alvejado na perna direita com um tiro de espingarda calibre 20, por um vaqueiro da fazenda Manga braba.
Segundo a versão dos indígenas, havia um grupo de quatro pessoas índias pescando no igarapé Teso Vermelho, próximo à propriedade. O s disparos teriam sido feitos por um vaqueiro da fazenda, em direção ao grupo, para que deixassem o local, pois se tratava de área particular e que os mesmos estavam proibidos de pescar naquele igarapé.
O Conselho Indígena de Roraima (CIR) chegou a enviar uma carta ao Ministério Público Federal (MPF) e para a PF relatando uma suposta tentativa de homicídio contra o indígena e pedindo providências urgentes.
Em contato com a Folha, o advogado Illo Augusto, que deverá prestar depoimento hoje, informou que é dono da fazenda e que a propriedade está fora dos limites da área indígena Raposa/Serra do Sol, pois está localizada na faixa de fronteira.
Disse ainda que é responsável pela fazenda Manga Braba, pertencente a um filho seu, que por ser menor de idade não pode responder pela propriedade. Segundo informações repassadas pelo vaqueiro José Roberto Frederico, eram sete indígenas que chegaram armados com uma espingarda, terçado e machado tentando entrar na propriedade.
O vaqueiro, que também é índio, teria sido ameaçado de morte pelo grupo. E quando um deles (no caso Hermínio) se preparou para atirar contra o vaqueiro, o mesmo teria se agarrado com ele e os dois travaram luta corporal pela posse da arma quando acidentalmente a arma disparou, segundo a versão do advogado.
Além de informar que o igarapé citado pelos índios é um bueiro que vaza durante o inverno e deságua para a fazenda dele e no verão seca, Illo disse que já existia uma rixa antiga entre o vaqueiro e um dos indígenas, que não aceita que o parente trabalhe para não-índios.

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