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Indigenista questiona Censo

IBGE-Brasília-DF
14 de Dez de 2005

Indigenista desconfia do resultado do Censo do IBGE que constatou aumento de 440 mil índios no País em nove anos. Alguns podem ter sido recenseados duas vezes, segundo ele.

Apenas o município paraense de Jacareacanga aparece na lista dos 15 maiores com população indígena do Brasil. Esta surpresa foi constatada na pesquisa "Tendências Demográficas: uma Análise dos Indígenas com Base nos Resultados da Amostra dos Censos Demográficos de 1991 e 2000", divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a pesquisa, trata-se de uma análise com a população que se declarou indígena nos questionários de amostras feitos pelo IBGE, nos anos de 1991 e 2000.

Os índios passaram a ser pesquisados, de maneira detalhada, a partir de 1991, no quesito denominado cor ou raça, por meio da metodologia de auto-identificação. Todos os indígenas recenseados estavam em suas terras, ou seja, fora dos domicílios urbanos. Apesar destes detalhes, o indigenista Francisco Potiguara, da Fundação Nacional do Índio (Funai) do Pará, diz que é complicado fazer um censo com os índios porque eles migram muito. "Ainda não tenho como provar, mas tenho certeza que houve casos de índios recenseados duas vezes, sendo uma como índio e outra como branco", comenta Potiguara.

Pela pesquisa do IBGE, na década de 1990, o contingente de brasileiros que se autodeclarou indígenas aumentou em 150% - um ritmo anual quase seis vezes maior que o da população em geral, em grande parte devido ao crescimento do número de pessoas que viviam em áreas urbanas, sobretudo no Sudeste, e passaram a se declarar indígenas em 2000 porque em 1991 haviam se classificado em outras categorias. Para Franciso Potiguara, da Funai, este fenômerno se intensificou porque, ao se declararem índios, eles têm mais acesso à saúde e à educação pública, que, apesar de continuarem precárias, sofreram grandes melhorias na última década.

De acordo com as informações contidas nos dois censos, em 1991, o percentual de indígenas em relação à população total brasileira era de 0,2%, ou 294 mil pessoas no País. Em 2000, este número saltou para 734 mil pessoas - número equivalente a 0,4% dos brasileiros que se auto-identificaram como indígenas. Isso representa um crescimento absoluto, no período entre os dois censos, de 440 mil indivíduos, ou um aumento anual de 10,8% - a maior taxa de crescimento entre todas as categorias de cor ou raça. O total do País apresentou, no mesmo período, um ritmo de crescimento de 1,6% ao ano.

As razões para explicar este aumento são muitas. As mais convincentes são o crescimento vegetativo dos indígenas, a imigração internacional originária dos países limítrofes que têm alto contingente de população indígena, como Bolívia, Equador, Paraguai e Peru; o aumento da proporção de indígenas urbanizados que optaram por se declarar indígenas no censo 2000 e que anteriormente se classificavam em outras categorias, incluindo aí pessoas que não se identificam com etnias específicas, uma das hipóteses mais plausíveis.

Região Norte registra menor ritmo de crescimento da população indígena

A região Norte, detentora da maior participação de indígenas no total do País, apresentou o menor ritmo de crescimento anual, tendo sua hegemonia reduzida devido aos aumentos nas participações relativas do Nordeste e do Sudeste, que em 1991 tinha a menor fatia de indígenas e, agora, dobrou a sua participação em 2000, passando de 10,4% para 22% - um ritmo de crescimento anual da ordem de 20,5%. No Norte do País residiam, em 2000, pelo menos 29,1% da população autodeclarada indígena, enquanto em 1991 essa proporção era de 42,4%. Na região Sudeste, em 1991, eram 30,5 mil pessoas que se autoclassificavam como indígenas. Já em 2000 esta população cresceu mais de cinco vezes e atingiu 161,2 mil pessoas. Já no Nordeste, as pessoas identificadas como indígenas passaram de 55,8 mil, em 1991, para 170 mil em 2000.

Em todos os Estados brasileiros foram registrados aumentos no número de pessoas que se declararam indígenas. As taxas de crescimento variaram de 2,1% (Roraima) a 28,8% (Sergipe) e alcançaram valores acima de 5,% ao ano em 25 das 27 unidades da Federação. Os cinco Estados que apresentaram maior crescimento foram Sergipe (28,8%); Piauí (27%); Rio Grande do Norte (26,4%); Minas Gerais (26,2%) e Goiás (23,9%). Os que apresentaram as menores taxas foram Amazonas (5,9%); Mato Grosso do Sul (5,7%); Alagoas (5,4%); Amapá (4,9%) e Roraima (2,1%).

Urbanos

Em 1991, o Brasil tinha 223 mil indígenas nas zonas rurais, ou seja, 76,1% do total de índios. Em 2000, exatos 383 mil já residiam em zonas urbanas, isto é, 52% do total. Esta aparente urbanização deve-se a uma maior autodeclaração nas regiões Sudeste e Nordeste, que têm menor número de terras indígenas homologadas e onde ocorreram, nas últimas décadas, importantes movimentos de reemergência étnica indígena. Por outro lado, nas regiões em que há maior número de terras indígenas, como no Norte e Centro-Oeste, a maioria dos indígenas está na área rural. No ano 2000, 18,1% dos indígenas moravam nas capitais, enquanto que em 1991 esse percentual era de 12%, proporcionado um crescimento de 50,5%. Apesar deste movimento, algumas capitais do Norte (Porto Velho, Rio Branco e Boa Vista); do Nordeste (Fortaleza) e as da região Sudeste, com exceção de Vitória (ES), tiveram redução na proporção de pessoas autodeclaradas indígenas com relação ao total do Estado.

Religião

Nos dois censos, os autodeclarados indígenas eram predominantemente católicos, acompanhando a população como um todo. Da mesma forma, o percentual de católicos entre os indígenas caiu na década de 1990. Em 1991 era da ordem de 64,3%; em 2000, 58,9%. Dos 41,1% de declarações restantes em 2000, 20% eram evangélicos; 14,4%, sem religião e somente 1,4%, adeptos das chamadas tradições indígenas. Entre 1991 e 2000, houve crescimento dos evangélicos, principalmente os de origem pentecostal - de 7,7% para 11,9% - e dos espíritas, que, neste caso, passaram de 0,3% para 0,8%.

Os municípios com mais índios no país

Estado Município Indígena (%)

AM São Gabriel da Cachoeira 76,3%
RR Uramautã 74,4%
RR Normandio 57,2%
AC Santa Rosa do Purus 48,3%
SC Ipuaçu 47,9%
PB Baia da Traição 47,7%
RR Pacaraima 47,4%
RS Benjamin Constant do Sul 40,7%
MG São João das Missões 40,2%
MS Japorã 39,2%
PA Jacareacanga 38,4%
RR Amajari 37,3%
RR Bonfim 37%
RS Charrua 35,4%
AM Santa Izabel do Rio Negro 34,8%

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