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Indígenas têm de convencer cacique a impedir entrada de madeireiros no Xingu

Radiobrás-Brasília-DF
26 de Ago de 2005

As lideranças indígenas que garantem a convivência pacífica dos quase 5 mil índios de 14 etnias habitantes da região do Alto Xingu, em Mato Grosso, enfrentam atualmente o desafio de levar a consciência ambiental aos próprios índios. Representantes de uma única comunidade Trumái, na região de Terra Nova, a oeste do parque, têm autorizado a entrada de madeireiros nas terras indígenas. Os demais líderes agora têm de convencer o cacique Ararapam a voltar atrás. "Trumái é outra cabeça. Não sei se é por causa de mais recurso que está vendendo madeira. Eu acho muito errado. Mas outras aldeias aqui não fazem isso não", diz Atamai, chefe dos Waurá, que participou do Kuarup na aldeia Ipatse, dos Kuikuro, encerrado nesta sexta (26).

Atamai é cunhado de Ararapam. Ele diz que ainda não teve oportunidade de conversar com os Trumái a respeito, mas se diz preocupado. "A gente vive aqui nesse mato, nós temos que controlar nosso mato. Se acabar tudo, como é que a gente vai viver, fica muito quente o sol, a gente não respira mais direito. E onde vai criar o animal? Todo animal se alimenta de fruta do mato", argumenta.

Afukaká, líder dos Kuikuro, e anfitrião do Kuarup que aconteceu esta semana, diz que as lideranças das 14 etnias que habitam o Alto Xingu já mandaram uma carta pedindo a retirada dos madeireiros à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Ele diz que os Trumái fizeram tudo por conta própria. "Foi sem consultar liderança. Nunca consultaram isso", afirma ele.

A Funai informa que já fechou uma serraria na região de Terra Nova e lembra que tem tentado oferecer alternativas de desenvolvimento sustentável na região, como o comércio de mel e artesanato. Segundo a assessoria de imprensa da fundação, também já foi solicitado que a fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) atue na região.

Os Trumái são, numericamente, o menor grupo do Alto Xingu. Somam menos de 100 indivíduos, segundo a Funai, e vivem numa região de transição, entre o chamado sistema xinguano e os povos do Médio e Baixo Xingu, que historicamente eram considerados "índios bravos" pelos do Alto, devido às diferenças culturais. A relação entre os líderes do Alto Xingu é baseada em laços de cooperação e amizade, não havendo subordinação obrigatória de uma aldeia a uma decisão coletiva, como explica o antropólogo Carlos Fausto, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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