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Indígenas fazem do Brasil país com maior diversidade lingüística

Agência Pará
25 de Abr de 2008

A diversidade cultural foi o assunto debatido na mesa-redonda da última quarta-feira (23), durante programação da II Semana dos Povos Indígenas do Pará. Para debater o tema "Multilingüismo e multiculturalismo indígenas", foram chamados a professora Leopoldina Araújo, da UFPA; Sebastian Drude, do Museu Emilio Goeldi; a antropóloga Regina Miller, da Unicamp; Gisele Dupin, da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural, órgão do Ministério da Cultura; Aldo Gatinho, da Secult e as lideranças indígenas João Wai-Wai, da região de Oriximiná, e Amâncio Munduruku, da região do Tapajós.

A professora Leopoldina Araújo afirmou que é forte a pressão para a homogeneização dos povos indígenas na atual sociedade. Ela ressaltou que toda língua existe a partir de formas de variantes históricas, geográficas e sociais, considerando que uma língua não é um bloco monolítico.

A respeito do bilingüismo a professora avaliou que não há incompatibilidade em falar a língua materna (original indígena) e o português. Aprender o português sim, mas nunca deixar de lado a própria linguagem indígena, apesar da pressão que há em desvalorizar e discriminar a língua indígena. Um dos problemas, disse a professora, é que muitos indígenas, principalmente os mais jovens, acabam internalizando esses conceitos e discriminalizando também a língua original.

Segundo ela, toda a cultura permite abertura para o novo, sem, entretanto, desconhecer as raízes. "A língua tem recursos que permitem adaptar ou criar outras formas, logo, toda língua tem capacidade de acompanhar as mudanças culturais".

A mudança de situação para manter viva a língua, conforme Leopoldina Araújo, é uma questão de decisão dos povos indígenas que devem cada vez mais lutar pela valorização e preservação da língua dos antepassados e os conhecimentos transmitidos por eles através dos séculos.

A sobrevivência dos costumes indígenas foi também a tônica da apresentação de Sebastian Drude, que também manifestou preocupações em relação à convivência dos indígenas com o português. O antropólogo revelou que a questão da perda lingüística é uma tendência mundial. A diversidade lingüística já foi mais forte, disse. "Hoje são pouco mais de cinco mil línguas no mundo e, nesse contexto, há línguas com muitos falantes e outras com poucos falantes, criando um descompasso nessa diversidade. Há estimativas que 50% das línguas estão em vias de desaparecer até o final deste século. Em 2150, por exemplo, teríamos somente 400-800, talvez 1200 línguas no mundo", informou.

O Brasil, segundo ele, é o país com melhor diversidade lingüística do mundo, havendo mais de 40 famílias diferentes. Possui mais de 170 línguas indígenas. Ele ressaltou que essa diversidade lingüística faz parte do patrimônio imaterial do Brasil, mas afirmou que isso está desaparecendo não só aqui, mas no mundo inteiro. Uma dos fatores seria a grande maioria das línguas do Brasil com poucos falantes. Como a professora Leopoldina, ele enfatizou que a solução passa por uma questão de decisão, só assim não se assistirá ao extermínio de culturas.

A respeito do bilingüismo Sebastian Drude lembrou dos obstáculos enormes quando indígenas não falam o português, por isso que muitos povos acabam optando por esta língua. Ele admitiu que os índios têm todo o direito de aprender o português, mas é preciso valorizar a própria língua. Atualmente indígenas são cada vez mais bilíngües, tendo aldeias na Amazônia onde os índios falam mais de seis línguas. O desafio para ele é garantir um bilingüismo estável, com a necessidade de manutenção da língua materna.

João Wai-Wai contou que vivenciou o desaparecimento da língua na própria aldeia. Lá, disse ele, os velhos que ainda falam a língua mãe estão morrendo. Ele afirmou a importância da preservação das línguas maternas nas aldeias, mas ressaltou que o aprendizado do português é oportuno, já que é uma forma de se comunicar com os não índios e ir em busca de direitos. Ele comentou que nas aldeias as escolas usam o sistema educativo de introduzir a própria língua no ensino e depois repassam para o português, acreditando que assim vão evitar o desaparecimento da língua.

Amâncio Munduruku, que integra a comunidade com maior população indígena no Pará, com oito mil índios, entende ser necessária a integração dos indígenas, sendo importante estar juntos e respeitar um a língua do outro, além de conhecer e aprender outras línguas para melhor se comunicar.

Multiculturalismo

A antropóloga Regina Miller defendeu a importância da arte estar próxima à língua, como o canto, a pintura do corpo, o artesanato, os mitos, que são expressões da afirmação da identidade indígena. Ela ressaltou que não é só a língua que está ameaçada de extinção, mas também essas expressões artísticas. Para a antropóloga, os não índios precisam ter mais acesso à arte indígena.

A representante do Ministério da Cultura, Gisele Dupin ressaltou que a integração indígena, defendida Amâncio Munduruku, é o objetivo do Fórum Nacional para Assuntos Indígenas, criado pelo Minc. O fórum vai integrar diversos órgãos públicos, uma forma de trabalhar mais adequadamente as políticas públicas para a área. Gisele Dupin falou que o que se quer com essa ampliação é contribuir com o protagonismo indígena.

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