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Indígenas do rio Negro assumem gestão ambiental de suas terras

A Crítica-Manaus-AM
08 de Ago de 2002

As 160 famílias de 13 comunidades indígenas de uma faixa do Rio Negro (AM) começam a construir um novo enredo na história desses povos. Mobilizadas pela Associação das Comunidades Indígenas Putira Kapuamu (ACIPK) e a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), as famílias estão sendo preparadas para assumir a gestão ambiental das suas terras e, a partir dela, definir as atividades econômicas sustentáveis que desenvolverão de forma planejada.

A primeira grande avaliação sobre o projeto de gestão ambiental aconteceu de 1o a 3 deste mês, quando um seminário, realizado na comunidade Ilha das Flores, a uma hora de voadeira da sede do Município de São Gabriel da Cachoeira (a 858 quilômetros de Manaus), reuniu as representações das comunidades São Felipe, Aparecida, Açaí, Tacira Ponta, Ilha das Flores, Iawawira, Bawari, Sarapó, São Luís, São Miguel, Cabari, São Sebastião e São Joaquim Mirim (compreende a região Putira Kapuamu). Nele, foram apresentados os resultados do Diagnóstico Etno-Ambiental das terras que essas populações habitam.

O trabalho desenvolvido nos últimos cinco meses, sob a orientação dos técnicos Carlos Durigan e Sully Sampaio, teve a participação direta das famílias e dos capitães desses núcleos. O estudo identificou 943 moradores na área Putira Kapuamu, sendo 504 homens e 439 mulheres, distribuídos em 15 etnias. A comunidade Ilha das Flores é a maior delas, com 20 famílias e 132 indivíduos e a de Sarapó, com 45 pessoas e seis famílias, a menor. Do total de moradores 358 são da etnia baré (a mais numerosa delas nesse espaço), existem outras menores entre as quais a tuiuka, que aparece com nove pessoas.

A madeira e a farinha são os principais produtos comercializados pelas comunidades. A madeira beneficiada gerou recursos aproximados de valor de R$ 160 mil, e a farinha de R$ 35 mil, seguidos da pesca, R$ 12,5 mil; açaí, R$ 8 mil, e madeira para beneficiar, R$ 4,2 mil (esses são valores médios obtidos no ano de 2001, de acordo com os dados preliminares do diagnóstico).

Entre as plantas cultivadas nos quintais foram identificadas 77 espécies utilizadas como alimento e 51 para fins medicinais. As mais abundantes são açaí, ingá e cupuaçu. Nos roçados estão sendo cultivadas 51 espécies com destaque para mandioca, pimenta, banana, caju e cana-de-açúcar.

No item extrativismo animal, 59 espécies são utilizadas, dentre essas destacam-se, por ordem de importância, a anta, caititu, paca, cutia, jabuti, jacu, mutum, papagaio, queixada, inambu. Da fauna aquática as espécies mais exploradas são anujá, mandubé, aracu, acará, daquiri, jandiá, iriaruca, traíra, tucunaré e pirandira.

O uso indiscriminado desses recursos, reconhecem os indígenas, ameaça a existência deles. Nos questionários que responderam para a elaboração do diagnóstico, as comunidades identificam que anta, paca, cutia e inambu são cada vez mais difíceis de ser encontradas e a madeira torna-se escassa.

O plano de gestão que está sendo elaborado dentro de um modelo participativo vai permitir às comunidades se organizarem, determinar como utilizar os recursos disponíveis e quais os investimentos que deverão ser feitos para manter a área produtiva.

"Ter conhecimento desses dados era uma necessidade para se pensar o futuro da região", diz o gerente técnico do Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas (PDPI), Gersem dos Santos Luciano. "Até hoje, os projetos passavam por essas comunidades em direção à cabeceira dos rios enquanto as comunidades apenas olhavam os barcos seguindo em frente", explica o gerente técnico ao falar sobre o esquecimento ao qual essa população foi submetida. A comunicação é uma entre tantas dificuldades. Está sendo feita por meio do contato com passageiros do transporte fluvial e por um serviço de radiofonia mantido pela Foirn. O PDPI é um dos programas que está apoiando a proposta da ACIPK/Foirn

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