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Autor: Lucas Luckezie
14 de Jun de 2024
Vice-tuxaua geral do CIR diz que indígenas não são contra o desenvolvimento do Brasil e defendeu que autoridades ouçam os povos originários
Comunidades da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e o Conselho Indígena de Roraima (CIR) repudiaram a aprovação de audiência pública na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados para discutir o fim da demarcação do território indígena roraimense. Um deputado do Espírito Santo defende a rediscussão do tema para restabelecer a região como alternativa ao castigado pelas enchentes Rio Grande do Sul, responsável por 70% da produção nacional de arroz.
As lideranças avaliam que a proposta representa o retorno da invasão à reserva de 1,7 milhão de hectares, homologada há 15 anos, e que tem 32 mil indígenas macuxi, wapichana, taurepang, patamona e ingarikó, conforme o CIR. A região situada nas cidades de Uiramutã, Normandia e Pacaraima é dividida em 233 comunidades.
O vice-tuxaua geral do conselho, Enock Taurepang, disse às autoridades que a demarcação serve para preservar a vida dos indígenas e o meio ambiente. Para ele, é "retrógrado" e "colonizador" o pensamento de parlamentares que desejam rediscutir o tema.
"A gente vive em País democrático, onde as comunidades indígenas precisam ser ouvidas, respeitadas da forma que querem viver. As instituições e o próprio movimento indígena não estão parados, a gente tem criado estratégias e mecanismos de como apoiar de fato as nossas iniciativas de produção", destacou.
O coordenador Arizona Menandro, do território indígena que abrange as regiões Surumu, Baixo Cotingo, Raposa e Serras, ressaltou que os povos indígenas ocupam toda a reserva com suas plantações tradicionais e que na maior parte dela existe a pecuária sustentável, sendo uma das maiores produtoras de bovinocultura do Estado.
"Hoje, aproximadamente possui 40 mil cabeças de gado no nosso território. As comunidades indígenas aumentaram, a população teve um aumento, o território foi todo ocupado. Os arrozeiros deixaram degradados, deixaram o nosso território devastado, e houve a defasagem dos animais silvestres. E hoje o povo indígena está tentando ainda recuperar o nosso território, usando pra bovinocultura, fazendo reflorestamento. A Raposa Serra do Sol tem também as nossas produções orgânicas. Aqui não tem uma família que passa necessidade", pontuou.
O CIR destacou que o território indígena avançou na pecuária, agricultura, piscicultura e outras produções sustentáveis, sem os fazendeiros e arrozeiros que destruíam o meio ambiente antes da demarcação, aos quais define como "invasores". O conselho lembrou que organiza a criação do Fundo Indígena Rutî para apoiar atividades produtivas familiares, comunitárias e regionais, fortalecendo iniciativas já existentes nas comunidades.
"Vamos começar a apoiar essas iniciativas de produção, justamente para sair dessa prisão e dessa armadilha que o Governo usa para as comunidades indígenas, para cooptar lideranças e famílias. Exemplo: eu dou algumas coisas para você e em troca eu quero você para sempre aos meus pés, para sempre me ajudar a chegar ao poder de governo, de vereador, deputado federal e de senador", exemplificou Enock Taurepang.
O tuxaua explicou que os indígenas não são contra o desenvolvimento econômico do Estado brasileiro e defendeu que as autoridades ouçam os povos originários. "Que os governantes sejam capazes de vir conversar com a gente e não vir com modelo montado, de que tudo que a gente fala e quer, não cabe no modelo do Governo. Por isso, sempre vai existir esse embate", lamentou.
Segundo maior território indígena do Brasil, a Raposa Serra do Sol foi homologada em 2005. Quatro anos depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) validou a demarcação contínua, em vez de terras em ilhas, o que resultou na expulsão de milhares de pessoas, incluindo rizicultores.
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