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Indígenas da Aldeia Maracanã vivem com dificuldade no Centro

O Globo - http://oglobo.globo.com
10 de Abr de 2016

Quando deixaram a Aldeia Maracanã, em reintegração de posse marcada por confrontos em 2013, cerca de 30 famílias indígenas de 17 etnias sabiam que teriam o desafio de manter suas tradições. Acomodadas desde junho de 2014 em apartamentos no residencial Frei Caneca, do programa Minha Casa Minha Vida, o desafio tem sido maior: sobreviver. As dívidas a quitar incomodam mais do que o fim das danças e fogueiras, que ainda mantinham como tradição na ocupação. O edifício em que vivem - um dos 48 prédios do conjunto no Estácio - já soma R$ 14 mil em débitos de condomínio.

O cacique Carlos Tukano conta que as despesas prediais, incluindo condomínio (R$ 102), mensalidade da Caixa Econômica (R$ 30) e contas diversas, como luz, água e telefone, chegam a R$ 400 reais por família. Desde o fim da aldeia, onde viviam e vendiam o próprio artesanato, os índios tiveram que se espalhar pela cidade para ganhar o sustento, mas não conseguem o faturamento de antes.

Muitos não fecham as contas do mês. Como Elvira Alves, de 47 anos, que mora num dois quartos tomado por miçangas. Ela conta que, em uma feira de Caxias onde vende seu trabalho, às vezes não há um único cliente.

- Tem meses em que não consigo pagar as contas. Com essa crise, as pessoas estão deixando de comprar - disse, enquanto preparava, no chão de casa, bijuterias para levar à feira da Rua do Lavradio.

A maioria dos índios faz das casas suas oficinas, mesmo com goteiras, reboco se soltando, janelas que não retêm a água da chuva e rachaduras. No último dia 1o, o imóvel foi avaliado pelo vereador Marcio Garcia (Rede), da Comissão de Defesa Civil da Câmara Municipal, e pelo Crea-RJ, sem risco constatado.

- Aqui as pessoas têm uma espécie de repulsa pelo indígena. Acham que nosso conhecimento não vale nada - lamenta a índia Niara do Sol, de 66 anos, para quem o apartamento parece "uma jaula".

Com cofres vazios, promessas da administração estadual para os índios não foram cumpridas. A principal: construção de um centro cultural indígena onde funcionava o antigo Museu do Índio, prédio em ruínas que abrigava a aldeia. Previsto para ser inaugurado em abril, o casarão histórico continua como um esqueleto urbano entregue ao descaso, ao lado do renovado Estádio do Maracanã.

Além disso, a cultura indígena terá mais uma baixa em ano de crise: a festa da Semana do Índio, comemorada do dia 19 a 24 deste mês, não terá aporte financeiro do governo estadual. A Secretaria de Cultura afirmou que o órgão "continua negociando recursos com patrocinadores da Rio 2016 para fazer reformas emergenciais no antigo Museu do Índio". Mas as reuniões, segundo a nota, "ainda não tiveram resultados concretos".

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