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Indígenas da Aldeia Maracanã lamentam falta de espaço para rituais em conjunto habitacional

O Globo (Rio de Janeiro - RJ) - www.oglobo.globo.com
Autor: Rodrigo Bertolucci
14 de Jul de 2015

RIO - Na sala, as flores que decoram a mesa são de plástico. Na cozinha, a geladeira e o fogão substituíram o artesanato e o fogão a lenha. Aos 55 anos, o cacique Carlos Tukano, o Doethyro, da etnia tukano, não consegue, em seu apartamento de 47 metros quadrados, praticar suas tradições, aprendidas quando ainda vivia em sua aldeia, em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, há mais de duas décadas. Mas o cacique garante que, apesar da falta de espaço para manter viva suas origens, ele e as outras 21 famílias da Aldeia Maracanã - anteriormente instaladas no prédio antigo do Museu do Índio - há um ano levam uma vida bem melhor num dos prédios do programa Minha Casa Minha Vida.

As famílias indígenas residem nos conjuntos habitacionais Zé Keti e Ismael Silva, construídos no terreno do antigo Presídio Frei Caneca, no Estácio. O bloco 15, com 20 apartamentos, é destinado aos índios. Depois de terem sido retirados do velho prédio vizinho ao Maracanã pelo Estado - que precisou usar o apoio da Batalhão de Choque da Polícia Militar - foram encaminhados para a Colônia de Curupaiti, em Jacarepaguá, até a entrega das chaves dos apartamentos.

- Lá em Jacarepaguá, a gente vivia em contêineres e no meio dos pacientes de hanseníase. Hoje, mesmo não tendo espaço para realizar as nossas atividades e manter a nossa cultura, estamos bem aqui - avalia o cacique.

A mesma opinião tem a índia Iracema Pankararu, de 48 anos, da aldeia Brejo dos Padres, de Pernambuco. Ela vive com duas filhas e dois netos num dos apartamentos. No Rio, Iracema assumiu o nome de Cícera Maria da Conceição.

- A maioria das famílias vive do artesanato que produz. Aqui, minha família pode estudar. As aldeias hoje estão lotadas e as terras que temos não suprem nossa demanda. Por isso, buscamos melhoria. Para nós, falta um espaço para não deixar a nossa cultura morrer - explica a índia.

Formada em ciências biológicas na Universidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, a índia Vangri Kaingang, de 35 anos, não gostou muito de viver numa "oca vertical". Mesmo após a profissionalização, ela tem vontade de voltar com sua família para a aldeia.

- Infelizmente, ainda existe preconceito e as pessoas não entendem a nossa cultura. Não deixo, por exemplo, meu pequeno (o filho Siratan Katir, de 1 ano e três meses) pisar na área externa, nem brincar com os meninos do condomínio. São brincadeiras violentas. Quero que ele cresça conhecendo nossa história e costumes - comenta a índia, que ainda não voltou devido a problemas financeiros.

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O sonho de instalar o Centro de Referência da Cultura dos Povos Indígenas no antigo museu ainda será concretizado, segundo o cacique Tukano:

- É a nossa identidade que estamos perdendo. O centro de cultura permitirá experiências e vivências entre os indígenas de diversas etnias.

PROJETO EM ESTUDO

Em nota, a Secretaria estadual de Cultura informa que está sendo concluído o estudo orçamentário para a contratação do projeto de arquitetura e restauro do imóvel no Maracanã. O Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), que tombou o prédio, orientará e acompanhará o desenvolvimento do projeto e a execução das obras de restauração e adaptação do imóvel. Só depois de feito esse estudo é que se poderá avaliar valores e prazos de licitação e contratação da obra.

http://oglobo.globo.com/rio/indigenas-da-aldeia-maracana-lamentam-falta…

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