VOLTAR

Indígenas celebram a criação de vestibular exclusivo na Unicamp

O Globo oglobo.globo.com.br
Autor: Jussara Soares
23 de Nov de 2017

Professores indígenas estão celebrando a recente decisão da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em criar um vestibular exclusivo para eles a partir de 2019. Para os educadores, o novo sistema para o processo seletivo é essencial para garantir o acesso de índios à universidade. Eles ressaltam que o currículo do ensino indígena não pode ser comparado às escolas tradicionais.

A aprovação para que a Unicamp criasse um vestibular indígena veio na última terça-feira. Na ocasião, ficou definido que o exame para ingresso à instituição será facultativo em 2019 e 2020, mas passará a ser obrigatório para todas as unidades da universidade a partir de 2021. A seleção poderá ser realizada com a criação de "cadeiras extras" ou com o preenchimento de vagas não ocupadas na primeira chamada. A ideia é oferecer duas vagas em cada um dos primeiros 16 cursos ofertados. Serão, portanto, 32 vagas nas graduações de medicina, ciências biológicas, farmácia, enfermagem, educação física, nutrição, ciências sociais, letras, linguística, pedagogia, geografia, história, filosofia, administração, comunicação social, e engenharia agrícola.

Da etnia Guarani-Mbyá, Poty Poran Turiba, de 40 anos, se formou pela USP em 2008 em um curso universitário exclusivo para professores indígenas. Antes, ela havia tentado entrar na mesma universidade por meio do vestibular comum, mas não conseguiu. Ela ressalta que a escola indígena tem um conteúdo diferente das escolas tradicionais, uma vez que são adaptados à cultura das diferentes etnias.

- Eu me senti muito mal em uma turma com não-indígenas e com o mesmo conteúdo para todos. Fiquei muito nervosa, as pessoas me olhavam muito. Não passei - conta Poty, que atualmente é vice-diretora do Centro de Educação e Cultura Indígena Krukutu, em Parelheiros, no extremo sul de São Paulo.

Publicidade

A professora também prestou vestibular para pedagogia na PUC-SP. Lá por meio do Programa Pindorama, indígenas fazem vestibular em uma sala exclusiva. E, embora a prova seja igual para todos os vestibulandos, indígenas disputam entre si 12 bolsas integrais no curso de graduação. Em 15 anos, cerca 150 alunos se formaram em cursos como Letras, Pedagogia, Serviço Social, Ciências Sociais e Engenharia.

- Eu me senti muito mais tranquila. Entrei uma sala em que todos eram indígenas. É acolhedor - diz Poty, que não chegou a concluir Pedagogia na PUC-SP e seguiu para o curso da USP. Após formada, Poty Porã participou como entrevistadora no processo seletivo para indígenas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). - A escola indígena é diferente. Cada etnia tem a sua escola. Então, o vestibular não pode ser o mesmo que o feito por não-indígenas.

Com o ensino médio completo, Kunã Poty Renó, da etnia Kayowá de Mato Grosso do Sul, sempre desejou entrar em uma universidade e espera que o vestibular indígena passe a ser uma realidade em todas as instituições de ensino superior.

- Queremos que alunos indígenas entrem na universidade porque é dessa forma que nós vamos manter nossa resistência no mundo atual - diz Kunã, cujo nome não-indígena é Rosilene Daniel. Atualmente , ela trabalha como professora de um programa cultural em Itu, no interior de São Paulo.

Para Kunã, é importante que índios tenham acesso a cursos não apenas na área de educação, mas também em engenharia, direito e medicina.

Publicidade

- Nós também temos o direito e capacidade de estar nessas áreas para poder ajudar nossa comunidade - diz.

Coordenadora do Programa Pindorama, a doutora em antropologia Lúcia Helena Rangel vê a iniciativa da Unicamp de criar um vestibular exclusivo para indígenas como um avanço para aumentar os índices de escolaridade desta parcela da população.

-Qualquer iniciativa que facilita o acesso de indígenas às universidades é muito bem-vinda uma vez que esta população tem baixos índices de escolaridade. - disse a professora. Ela elogiou a ideia do vestibular exclusivo para que indígenas não precisem disputar com outros alunos. - É ótimo que a Unicamp, que é uma universidade rica, de ponta e que sempre teve um perfil elitista, mesmo chegando tarde nesta questão de cotas se abra para esta iniciativa

https://oglobo.globo.com/sociedade/indigenas-celebram-criacao-de-vestib…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.