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Indígenas buscam no esporte caminho para fortalecer identidade

Radioagência Nacional/EBC - www.radioagencianacional.ebc.com.br
Autor: Maíra Heinen
14 de Abr de 2015

Competir por medalhas, brigar pelo pódio, buscar o melhor posicionamento no ranking. Atitudes tão comuns para atletas de diversos segmentos, mas não para esportistas indígenas. O conceito de esporte é algo ainda novo para estas populações, que tem as atividades físicas inseridas no cotidiano de trabalho, festas e rituais.

Mas esta realidade está mudando. O arqueiro Dream Braga, por exemplo, do povo Kambeba do Amazonas é o primeiro índio a fazer parte da seleção brasileira de tiro com arco. A modalidade é olímpica, mas também está no sangue de diversas etnias. A diferença para Dream, agora, é a busca pelos melhores resultados, treinamentos constantes e o foco.

Sonora: "É a responsabilidade é grande pra um atleta de alto nível. Só tenho que pensar em mim mesmo. Eu, minha flecha e o alvo. Meu objetivo hoje também é alcançar o nível mais alto possível que eu posso crer hoje e estar na olimpíada também e representar o Brasil da melhor forma possível."

Além do tiro com arco, a natação, a peteca e a canoagem são os esportes tradicionais mais comuns entre os diversos povos indígenas do país. Porém o futebol é a modalidade olímpica mais jogada nas comunidades.

A paixão brasileira pela bola e pelo gol vai além da diversão para alguns indígenas do povo Gavião, no Pará. O Gavião Kyikatejê Futebol Clube já é um time profissional e foi o primeiro, de raiz indígena, a disputar a divisão principal do campeonato paraense de 2014. O técnico Pemp'kratê, mais conhecido como Zeca Gavião, chegou a fazer cursos com técnicos brasileiros reconhecidos e destaca o esforço empenhado para profissionalizar os jogadores.

Sonora: "Profissional não é só ter o título de profissional, mas saber se comportar realmente como profissional. Respeitar seus companheiros, saber que tem jui, tem bandeirinha, saber lidar com essa situação...porque os brancos sempre tiveram a preocupação em dizer: 'Ah, o índio ele não tem aquele comportamento de um atleta, enfim...' E tudo isso eu tentei trabalhar com meu pessoal, na questão de orientar... A gente conseguiu agora trazer várias etnias e hoje eu posso dizer que eu tenho 80% de indígena que vai disputar em setembro agora desse ano, como profissional."

O povo Pareci, do Mato Grosso, também tem uma relação muito íntima com a bola, talvez até ancestral. O Jikuna'hatí, também conhecido como "cabeçabol", é um jogo muito parecido com futebol porém, jogado apenas com a cabeça. O cacique Roni Pareci explica que a prática do esporte tem se fortalecido com a valorização da própria cultura na escola.

Sonora: "O esporte que levou o contexto Pareci na questão esportiva a nível nacional foi o futebol de cabeça, o Jikuna'hatí, né. É um esporte, dentro da nossa mitologia, que se originou junto com o povo né, e hoje a juventude pratica dois esportes o jikuna'hatí e o futebol nacional também. Mas graças a Deus, devido o trabalho dentro da área educacional escolar, os professores vêm valorizando os dois contextos esportivos."

Para a professora do curso de Educação Física da Universidade Federal da Grande Dourados, no Mato Grosso Marina Vinha, o esporte tradicional indígena, ou as chamadas atividades lúdicas, fortalecem cada vez mais a identidade desses povos.

Sonora: "Jogos, brincadeiras cantadas, jogos em círculo, jogos de construção, jogos simbólicos, né... são todos esses fatores que vão trazer a identidade pra dentro da escola. E a criança indígena, com o esporte na escola, vai ter um elemento a mais: noção de limites dentro da sociedade, de relacionamentos, esse sentido é o mais importante."

Várias comunidades já inseriram o esporte nas práticas escolares e já organizam eventos esportivos locais, nacionais e até internacionais, como é o caso dos Jogos Mundiais Indígenas. O evento será realizado de 18 a 27 de setembro, em Palmas, no Tocantins e indígenas de 30 países diferentes vão participar. Uma oportunidade única de trocar experiências e tornar a prática esportiva, tradicional ou comum, cada vez mais natural para os índios brasileiros.

http://radioagencianacional.ebc.com.br/cultura/audio/2015-04/indigenas-…

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