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Indígena que perdeu braço após ser espancado é ameaçado em hospital: 'não vai ficar assim'

G1 https://g1.globo.com
23 de Fev de 2019

O indígena de 39 anos que perdeu um braço após ser espancado, em São Carlos (SP), foi ameaçado dentro do quarto onde está internado na Santa Casa, segundo relato da irmã dele à Polícia Civil. Um homem teria dito em tom ameaçador que a situação "não vai ficar assim".

A irmã do indígena prestou depoimento na quinta-feira (21) no 2o DP, responsável pela investigação do caso. O G1 não conseguiu contato com a Polícia Civil para comentar o assunto.

A Comissão dos Direitos Humanos da OAB de São Carlos pede escolta policial para o homem.

Ameaça
Segundo a declaração da irmã, ao chegar para visitar o indígena no hospital o encontrou abalado após a ameaça.

A Santa Casa de São Carlos, por meio do Departamento Jurídico, informou que não foi informada sobre as ameaças, seja por parte do advogado do paciente, seja pela OAB e, caso isso, ocorra adotará as providências.

De acordo com a Santa Casa, o quadro clínico do indígena mantém-se estável, mas inspira cuidados.

Proteção
Diante da ameaça, a presidente da Comissão dos Direitos Humanos da OAB de São Carlos, Sara Lúcia de Freitas Osório Bononi, reiterou o pedido de proteção de escolta policial para o indígena, feito na segunda-feira (18), quando teve conhecimento da agressão.

Ela também solicitou que o caso fosse conduzido pelo Ministério Público Federal e aguarda a decisão.

"Depois da agressão, nós entramos com o Ministério Público local, que disse que não tinha ciência ainda e não ia se pronunciar no momento. Eu entendi que é mais adequado que os fatos fossem analisados e conduzidos pelo MP Federal, em razão de ser um direito fundamental."
Segundo a advogada, o indígena está com muito medo e só conta os fatos para pessoas mais próximas.

"O ideal seria retirá-lo da comarca. Ele ia se sentir mais seguro", afirmou.

Na segunda-feira (18), a secretária nacional de Políticas Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Sandra Terena, esteve em São Carlos e levou um pedido ao delegado do 2o DP, Walkmar Silva Negré, responsável pela investigação, para que a agressão seja investigada como crime étnico-racial.

Segundo o delegado seccional de São Carlos (SP), Rogério Fakhany Vita, o caso está sendo tratado como lesão corporal grave. "No decorrer das investigações, se surgirem outros fatores como uma injúria racial isso também será apurado", afirmou.

Agressão

O crime aconteceu em 18 de janeiro, mas só foi registrado na terça-feira (12), após uma denúncia anônima. O ajudante de serralheiro relatou que no dia da agressão, após o trabalho, foi a um bar com um homem que ele conhecia e cujo nome foi informado à polícia. No local, ocorreu uma discussão entre eles e o homem acusou o ajudante de ter furtado R$ 100.

Em um áudio cedido ao G1 pelo professor de sociologia e fundador da ONG Associação Veracidade, Djalma Nery Ferreira Neto, o indígena relatou como foi a agressão e diz temer pela sua vida. "Eles falavam que iam acabar comigo, minha família também", disse.

Após a discussão no bar, o homem suspeito da agressão foi embora e mais tarde abordou o indígena em um semáforo e pediu carona. Ele entrou no carro e pegou a chave e passou a dirigir o carro, pegou mais outro homem e foi até a casa do indígena.

"Eu estava com a chave mas não abri a porta. A intenção era roubar o carro, eles queriam ferramenta e tudo. Queriam de tudo quanto é jeito", afirmou a vítima.

Ele contou que eles saíram da casa e foram para uma mata no Jardim Zavaglia. "Eles falaram: 'o negócio é o seguinte ou você me dá o carro e as coisas ou a gente vai te matar'. Eles pararam o carro no escuro e começou primeiro a me bater. Eles começaram a me espancar e me espancar. Aí ele deu uma paulada na minha cabeça, fiquei desacordado e quando acordei de repente já estava com uma parte [do braço] para o lado de fora [do carro]. Um me sufocando, um segurando e um batendo a porta no braço", disse.

Ameaças de morte

O ajudante também relatou que era ameaçado de morte durante a agressão.

"[Diziam:] 'a gente vai te matar. Você é um a menos para nós, você não faz diferença nenhuma'. Eles ainda falaram que o corpo eles iam jogar no meio do mato e no carro ia dar um sumiço".

Mesmo ferido, ele relata que foi embora dirigindo e não procurou socorro. "Na segunda eu tomei remédio, na terça em diante que começou a doer o braço. Fui direto na UPA e depois fui encaminhado para a Santa Casa e fiquei aqui internado, desde o dia 24", afirmou.

Ele ainda disse que mentiu no hospital sobre o que tinha acontecido por medo. "Eles falavam que iam acabar comigo, minha família também, tanto que eu vim para Santa Casa e nem falei o motivo, falei que caí do cavalo".

O braço direito acabou sendo amputado por conta da gravidade das lesões.

"É meu único meio de ganha pão, eu trabalhava com ele e agora eu não tenho mais. A vida continua, mas não é mais a mesma coisa. Tudo muda completamente, muda o jeito de ver, o jeito de ser, o jeito de agir. Também não sei se o pedaço aqui vai dar para por uma prótese", afirmou.

O ajudante de serralheiro ainda está preocupado com sua segurança e da família. "A minha preocupação é minha família ser exposta. É uma coisa de risco né. Do jeito que fizeram uma vez eles podem pegar de novo né. Eu tenho muito medo. Não me sinto protegido", disse.

Durante a visita da secretária Sandra Terena, o ajudante de serralheiro e a sua família pediram segurança e para ser atendido em um hospital mais próximo da cultura indígena.

https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2019/02/23/indigena-q…

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