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Incúria hídrica

FSP, Editorial, p. A2
25 de Out de 2015

Incúria hídrica

Com meses de atraso, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) inaugurou no final de setembro sua mais importante obra para remediar a crise de abastecimento de água na Grande São Paulo. Meros oito dias depois, a interligação da represa Billings com o sistema Alto Tietê já se encontrava paralisada.
A ideia era levar água de um braço menos poluído da Billings (Rio Grande), hoje com 86% de sua capacidade, para reforçar a represa Taiaçupeba, no Alto Tietê, sistema sob estresse, com parcos 14%. O percurso envolve uma dezena de quilômetros em tubulações e outra no leito de um córrego.
Acionadas as bombas, mesmo com metade da vazão pretendida, a torrente erodiu as margens do riacho. O nível subiu e houve alagamentos na cidade de Ribeirão Pires.
A Secretaria Estadual de Saneamento e Recursos Hídricos afirmou ao jornal "O Estado de S. Paulo" tratar-se de "situação corriqueira no início da operação de obras civis de grande porte".
Não há nada de corriqueiro na gestão da crise hídrica paulista, muito menos nessa transposição das águas de um sistema para outro. É sobretudo em intervenções como essas, feitas sob pressão do tempo e não como fruto de planejamento tempestivo, que surgem os problemas.
Um estudo de impacto ambiental elaborado com critério e competência, não a toque de caixa, dificilmente deixaria de indicar uma possibilidade tão óbvia quanto a da erosão e assoreamento do córrego.
Quando se saltam etapas, como lamentavelmente se tornou imperativo na região metropolitana de São Paulo, o risco de surgirem imprevistos aumenta.
A outra grande medida de Alckmin, esta para aliviar o depauperado sistema Cantareira (12%), prevê alimentar sua represa Atibainha com água canalizada desde o reservatório Jaguari, que pertence a outra bacia hidrográfica, a do rio Paraíba do Sul. Mais de meio bilhão de reais será despejado para construir 20 km de túneis e adutoras.
No entanto, a situação da bacia doadora -da qual depende a região metropolitana do Rio- é por si só preocupante, com 7% de sua capacidade total de reservação.
A tal ponto de penúria chegou a gestão de recursos hídricos no Sudeste. O poder público tende a insistir nas obras para transportar o líquido daqui para lá e de lá para cá, mas a solução duradoura só virá quando se der mais prioridade à conservação do recurso.

FSP, 25/10/2015, Editorial, p. A2

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/10/1698136-incuria-hidrica.sh…

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