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09 de Dez de 2024
Incêndios florestais devem ser tratados como prioridade
Neste ano, as chamas destruíram uma área da Amazônia mais de dez vezes maior que o desmatamento
09/12/2024
As chamas têm sido mais devastadoras para a Amazônia que as motosserras. Dados do Monitor do Fogo do MapBiomas, baseados em informações de satélites, revelam que, de janeiro a outubro, incêndios destruíram uma área da floresta mais de dez vezes superior ao desmatamento registrado entre agosto de 2023 e julho de 2024 - 6,7 milhões de hectares ante 650 mil hectares. Com uma agravante: o Brasil sabe como combater o desmatamento - e a redução recente na área desmatada na Amazônia e no Cerrado é prova disso -, mas tem se revelado incapaz de deter o fogo.
A combustão tem se alastrado pelo país. Somente em outubro, arderam 5,2 milhões de hectares, 18,8% do total do ano, área equivalente à do Rio Grande do Norte. Incêndios florestais costumam decorrer de ação humana - geralmente agricultores acostumados a pôr fogo na terra para o plantio perdem controle das chamas. É comum as queimadas se alastrarem, destruindo vegetações nativas e florestas, sobretudo durante a seca.
De janeiro a outubro, mais da metade dos incêndios foi registrada na Amazônia - 55%, ou 15,1 milhões de hectares. No ano passado, o bioma contribuíra com 21% das queimadas. Em outubro, com 73%. Não apenas a Amazônia preocupa. No período, 9,4 milhões de hectares do Cerrado foram queimados, 8 milhões em terras de vegetação nativa, aumento de 97% em relação aos mesmos dez meses do ano passado. No Pantanal, 1,6 milhão de hectares viraram cinzas, crescimento de 1.017%. Na Mata Atlântica foram 993 mil hectares, 71% deles em pastos. No Pampa e na Caatinga, as queimadas retrocederam. Mesmo assim, 85% das áreas atingidas foram de vegetação nativa.
O poder público precisa tratar os incêndios florestais como prioridade. Não bastam campanhas de esclarecimento e vigilância contra as queimadas. Para combater as chamas, também não adianta depender de bombeiros treinados para apagar fogo urbano. Equipamentos - como aviões - e pessoal necessários são distintos. Há no Brasil capacidade e conhecimento suficientes para implementar os programas necessários. No Consórcio Amazônia Legal (CAL), foi apresentado há quase quatro anos um projeto de R$ 250 milhões voltado a prevenção e combate de incêndios. Parou na burocracia do Banco Mundial. Outro projeto foi apresentado ao Fundo Amazônia, até agora sem resultado. "Sabemos o que temos de fazer, mas a falta de capacidade institucional proíbe avançar na velocidade necessária", diz Marcello Brito, secretário executivo do CAL.
O governo se queixa da falta de colaboração entre entes federativos, mas só lançou um pacote nacional contra incêndios em setembro, com o fogo ardendo. É necessário agir antes. Eventos climáticos extremos, como secas, têm se tornado mais frequentes e mais intensos. O consórcio World Weather Attribution (WWA), que usa modelos estatísticos para avaliar a influência do aquecimento global nesses eventos, comprovou o papel do aquecimento global na seca que atingiu a Amazônia em 2023 e se agravou neste ano.
"Queimadas não respeitam lei, fiscalização ou pactos políticos; não existe refúgio ambiental a salvo do fogo", escreveu o ex-prefeito de Paragominas (PA) Adnan Demachki. "A nova realidade dos incêndios florestais representa, na atualidade, a maior ameaça ao futuro da Amazônia." O Brasil não pode se dar ao luxo de ignorar o alerta.
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