O Globo, O País, p. 5
17 de Nov de 2008
Incêndio na Chapada Diamantina ameaça animais de extinção na Bahia
Fogo já atingiu metade da Chapada da Diamantina, único habitat de dezenas de espécies com sobrevivência ameaçada
Emanuella Sombrae Maiza de Andrade
Nos últimos 15 anos, o apelo turístico da Chapada Diamantina deu à região fama internacional, mas neste mesmo período aumentou em pelo menos cinco vezes a área do Parque Nacional que é devastada anualmente por focos de incêndios. Além das ameaças à vida humana e a destruição da vegetação, as queimadas prejudicam uma das áreas mais ricas em biodiversidade do mundo, segundo a botânica Ana Maria Giulietti, professora do departamento de Universidade Estadual de Feira de Santana.
- Uma queimada dessas têm conseqüências inimagináveis - alerta.
Nos últimos 30 dias, cerca de 50% da área do parque teve sua vegetação destruída por centenas de focos de incêndio. Uma força-tarefa vinda de Brasília com 25 brigadistas chegou, na sexta-feira, a Mucugê, onde quatro aeronaves pequenas e quatro helicópteros estão sendo usadas na tentativa de debelar os incêndios. Mas, apesar do esforço conjunto desenvolvido por soldados do Corpo de Bombeiros, brigadistas e ecologistas, ainda restam pelo menos oito focos de incêndio.
O fogo atinge áreas dos municípios de Lençóis, Palmeiras, Andaraí, Ibicoara e Mucugê. A preocupação do Corpo de Bombeiros é impedir que zonas intangíveis - onde até a presença do homem é proibida pelo Ibama - sejam devastadas pelas chamas.
- Nestas zonas intangíveis, há uma biodiversidade que não existe em outros lugares da região, e por enquanto permanece intacta - afirmou, na última sexta-feira, o coordenador do Núcleo de Prevenção e Combate do Ibama (Prevfogo), José Carlos Mendes.
Localizado na região do semi-árido, o parque tem uma área de 152 mil hectares e um alto grau de endemismo - ou seja, é grande o número de espécies que só existem na região. Ana Maria cita o caso do pico das almas, onde, das 1.100 espécies registradas, nada menos que 10% são exclusivas do local.
Pesquisadores já registraram dezenas de espécies animais que têm seu habitat exclusivo na região da Chapada Diamantina e que estão com sua sobrevivência ameaçada pelas queimadas. Já foram catalogadas pelo menos cinco espécies de anfíbios (rãs, sapos e pererecas), 12 de répteis (lagartos, lagartixas e cobras) e três de aves.
Além do parque nacional, área federal, há cinco unidades de conservação estadual na Chapada Diamantina. Estimativa do Corpo de Bombeiros de Lençóis aponta para a existência de mais dez focos de incêndio em municípios como Morro do Chapéu, Gentil do Ouro, Seabra e Itaberaba, que ficam foram da área do parque.
O Globo, 17/11/2008, O País, p. 5
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