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Impactos sociais de hidrelétricas em Rondônia são discutidos por pesquisadores no AM

Portal Amazônia - http://portalamazonia.com
Autor: Clarissa Bacellar
23 de Jun de 2015

Consequências sobre a ictiofauna e meio ambiente afetam também municípios amazonenses banhados pelo rio Madeira, onde as hidrelétricas foram construídas

Além dos efeitos negativos sobre o meio ambiente em áreas inundadas para a construção das hidrelétricas de Santo Antônio e de Jirau, em Rondônia, no rio Madeira, os aspectos sociais também são debatidos por pesquisadores do Amazonas. O Estado também é afetado pelo assoreamento do leito do rio e, a população amazonense também sofre as consequências. As hidrelétricas afetam cerca 200 mil pessoas nos municípios amazonenses.

O debate sobre o papel da população nesse processo aconteceu na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (ALE-AM). A audiência pública para discutir os reais impactos das hidrelétricas em ambos Estados foi proposta pelo deputado estadual Dermilson Chagas (PDT), que preside a Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPPADR) da ALE-AM.

Segundo o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Philip Fearnside, são muito mais prejuízos do que o governo tem admitido. "Se tem que balancear o benefício com o estrago, mas o estrago não foi contado. Moradores não sabiam que seriam deslocados, pois o discurso constante era que o rio seria no nível da enchente natural, mas não é assim", afirmou.

O geógrafo e diretor no Brasil da WildLife Conservation Society (WCS), Carlos Durigan, informou que o processo de construção de uma barragem deste porte atinge diretamente ictiofauna da região e, consequentemente, quem dela depende para sobreviver. "Oitenta por cento dos peixes consumidos na Amazônia são migradores. Considerando um processo de uma infraestrutura pesada como essa, com outros projetos em andamento, se vermos no futuro, isso vai limitar a migração deles para reprodução e vai limitar esse pescado para a população, que atualmente consome 30 quilos de peixe por ano por pessoa", exemplificou.

Para Durigan é preciso pensar em empreendimentos que causem impactos menores. "Essa situação está causando um impacto muito grande e muito mais rápido do que se esperava", afirmou. O geógrafo afirmou que o que faltou foi diálogo entre governo e sociedade.

"O diálogo existiu, mas de uma forma pouco efetiva. Os alertas foram feitos, continuam sendo feitos, e os projetos, não só esses que foram consolidados, mas outros continuam em curso. Como no caso de Belo monte e das Usinas do Tapajós. Isso é preocupante porque, uma vez que esses impactos são gerados, dificilmente a gente reverte eles. A ideia é que talvez agora a gente consiga, com o exemplo do Madeira, que é um impacto já estabelecido e de difícil resolução, pensar melhor nos próximos projetos para a Amazônia", comentou.

Sobre as discussões em processo, Durigan crê que podem ajudar, mas se houver maior sensibilização da classe política. "É um processo difícil. Eu entendo. Não somos contra o desenvolvimento. Todo mundo entende que o desenvolvimento da região é necessário, mas que seja feito de uma forma responsável, porque existem formas de fazer melhor", disse.

Rubens Gomes, presidente do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) - que representa mais de 500 comunidades ribeirinhas amazonenses - foi duro em sua avaliação: "Sempre o Brasil, com a desculpa de pressa, termina não fazendo estudos de forma contundente, que possa dar base real para os impactos. Nós temos que, no mínimo, garantir que essas condicionantes sejam cumpridas para minimizar, reduzir esses impactos. Falta não só ouvir os pesquisadores, mas as populações que foram afetadas. Essas populações tem direito garantido nos tratados internacionais o qual o governo brasileiro é signatário. Elas tinham que ser escutadas de forma correta e tinham que se manifestar".

Para Gomes, a população ribeirinha que depende do rio Madeira foi ouvida de forma indevida. "O processo é feito de forma inadequada, não se dá o direito do consentimento livre, prévio e informado.É preciso sair do achismo para saber os reais impactos sobre o modo de vida e sobrevivência das populações que vivem nesses locais. A ciencia precisa considerar, o parlamento precisa considerar, assim como o ambiente está perdendo, nós temos um parceiro do ambiente que cuida e protege, as populações tradicionais, que também estão sendo perdidas", afirmou.

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