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IML vai exumar corpos de indígenas

Folha on line, Brasil
07 de Nov de 2006

IML vai exumar corpos de indígenas

Kátia Brasil
da Agência Folha, em Manaus

A Polícia Civil do Amazonas determinou ontem que uma equipe de legistas do IML (Instituto Médico Legal) de Manaus faça a exumação de corpos de jovens indígenas que se suicidaram em São Gabriel da Cachoeira (858 km oeste de Manaus).

Nos últimos 11 meses, dez jovens com idades entre 13 e 19 anos cometeram o suicídio pelo enforcamento na cidade. Outros 20 tentaram o suicídio durante esse período. A última morte foi registrada na quinta-feira passada: um rapaz de 19 anos, da etnia baré, se enforcou depois de ter ingerido bebida alcoólica.

O motivo da seqüência de suicídios e das tentativas ainda não foi identificado.

Segundo o diretor de Polícia do Interior, delegado Alberto Petrônio de Carvalho, a equipe de legistas será coordenada por um delegado e viaja esta semana para São Gabriel da Cachoeira. Exames toxicológicos serão também realizados, para determinar se os índios consumiram bebida alcoólica e drogas em excesso.

"A exumação é aconselhável sempre que existe a possibilidade de que pode ter ocorrido um homicídio, e não suicídio. A autoridade policial tem que analisar todos esses aspectos", afirmou Carvalho.

O município de São Gabriel da Cachoeira está localizado na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela, numa das regiões mais remotas do Amazonas. Dos 35 mil habitantes, cerca de 90% são indígenas. Pesquisa do ISA (Instituto Socioambiental) afirma que na zona urbana da cidade há 2.831 habitações de indígenas. Eles migraram por causa da falta de escolas, trabalho e serviços de saúde nas aldeias.

Um relatório da Polícia Civil aponta como fator dos suicídios o quadro de crise social encontrados pelos jovens na cidade, sendo vítimas de alcoolismo, do desemprego, da desestruturação familiar, da miséria e da ociosidade. Uma menina de 14 anos que suicidou-se no dia 19 de outubro havia dito para sua mãe que "não agüentava tanta miséria", conforme depoimento na delegacia local.

Em um dos dez inquéritos abertos sobre esses casos, há um suspeito de induzir os jovens indígenas ao suicídio. O suspeito --que não foi indiciado por falta de provas-- é um homem adulto, que seria membro de uma seita que fazia rituais dentro dos cemitérios da cidade. "Uma busca e apreensão na casa dele foi determinada pela Justiça, mas nada foi encontrado", disse o delegado Prudêncio Brisolla Corrêa.

Folha on line, 07/11/2006, Brasil

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